Qual é o processo físico que nos leva a esquecer experiências traumáticas, como os detalhes de um acidente, de uma briga ou as circunstâncias mais vívidas de uma morte? Um estudo publicado pela revista científica americana Science tenta dar uma resposta a essa questão que intriga os neurologistas. Pesquisadores das universidades Stanford e do Oregon constataram que, para impedir que registros indesejáveis permaneçam na superfície da memória, há uma diminuição na atividade do hipocampo, uma das regiões envolvidas no processo de lembrança de fatos passados. O estudo só foi possível graças a uma invenção recente: o exame de ressonância magnética funcional, capaz de flagrar o cérebro em plena atividade. "Essa é uma das melhores pesquisas sobre os artifícios da memória produzidas nos últimos anos", diz o neurocientista Ivan Izquierdo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos maiores estudiosos do assunto no Brasil.
Esquece-se, mas não por completo. O que estava na superfície da memória é arquivado numa camada mais profunda da mente. Ou seja, as lembranças continuam a existir de forma latente. Em muitos casos, transformam-se em fontes de angústia. "Decifrar o processo pelo qual o cérebro arquiva a memória de eventos indesejáveis pode abrir caminho para o tratamento de alguns tipos de fobia e do stress pós-traumático", diz o neurologista Mauro Muszkat, professor da Universidade Federal de São Paulo. Uma das possibilidades é a criação de um remédio que apague inteiramente as lembranças que causam transtornos.
As conclusões do estudo americano permitem supor que chegará o dia em que a ciência conseguirá desvendar a teia química que compõe o inconsciente, esse tumultuoso oceano subterrâneo de que fala Sigmund Freud, o pai da psicanálise. É no inconsciente que ficam reprimidos, muito mais do que lembranças traumáticas, os desejos inconfessáveis que atormentam uma existência na forma de neuroses. Aquilo que jaz no inconsciente só vem à tona por meio de simbolismos expressos pelos sonhos e por lapsos cotidianos. O trabalho do psicanalista é justamente ajudar a conferir um sentido a esse material psíquico, para que o paciente possa tomar consciência do que o perturba e, desse modo, livrar-se de seus sintomas. Esse trabalho costuma ser longo e não há garantia de que venha a dar resultados. Se um dia a química do inconsciente for desvendada, tudo se tornará mais fácil. Mas essa não é uma reflexão original. Freud já dizia isso.
sábado, 24 de abril de 2010
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