Trechos retirados do livro INTRODUCAO A TEORIA DOS SISTEMAS de Niklas Luhmann.
hoje, ha serias duvidas se os sistemas descritos mediante a nocao de equilibrio sao reais; tem-se antes chegado a conviccao de que no desequilibrio os sistemas adquirem sua estabilidade. trata-se de algo semelhante ao que ocorre na observacao de que o sistema economico so pode ser estabilizado na medida em que cria sobreproducao, ou em que produz excesso de compradores: compradores escassos e, portanto, sobrepoducao de mercadorias; ou mercadorias escassas e sobreproducao de compradores. esses desequilibrios que levam a estabilidade poderiam servir para caracterizar a economia capitalista e socialista.
a perturbacao chega a sugerir, inclusive, uma perspectiva de potencializacao do sistema, na medida em que este pode ficar permanentemente exposto as alteracoes e continuar sendo estavel. de qualquer modo, essa compreensao da estabilidade a partir do desequilibrio se dissocia da tradicao conceitual que tratou o desequilibrio na direcao do binomio estabilidade/perturbacao.
a esse desenvolvimento se somou um propriamente moderno, resultante da compreensao da termodinamica: como ee possivel que os sistemas regidos pela entropia possam conservar-se? ou, dito na linguagem da fisica: como sao possiveis os sistemas, se a dinamica geral do universo faz com que ja nao se possa operar nenhum tipo de distincao em relacao a energia?.
a fisica chegou a compreensao de que o universo ee um sistema fechado, que nao pode aceitar nenhum tipo de input de uma ordem que nao esteja contida nele proprio, e que a lei da entropia ee ai inexoravel. mas, se isso ee valido para o mundo fisico, nao o ee, sem mais, para a ordem biologica e social. dai, entao, que o fechamento fisico do univero fosse negado como um fenomeno representativo de outras ordens. pensou-se, entao, que esses sistemas distintos teriam de ser fundamentalmente abertos, capazes de desenvolver neguentropia - o que explicava o esforco dos organismos (pensando-se na biologia!) em sobrepor-se, ainda que parcialmente, a lei entropica do universo.
abertura significou comercio com o meio, tanto para a ordem biologica como para os sistemas voltados para o sentido. surgiu, assim, uma nova enfase no modelo: o intercambio. para os sistemas organicos se pensa em intercambio de energia; para os sistemas de sentido, em intercambio de informacao. esses sistemas, por assim dizer, interpretam o mundo (sobre o preceito da energia ou informacao) e reagem conforme esta interpretacao. em ambos os casos, a entropia faz com que os sistemas estabelecam um processo de troca entre sistema e meio, e, consequentemente, por sua vez, que esse intercambio suponha que os sistemas devam ser abertos.
aos preceitos conceituais sobre o intercambio da teoria geral dos sistemas se juntou a teoria da evolucao. desde darwin, a evolucao tomou como consigna explicar a multiplicidade das especies biologicas: como ee possivel que de um acontecimento unico fundador da vida (a celula) se tenha chegado a tao distintas formas organicas? no ambito do social, poder-se-ia estabelecer uma inquietacao equivalente: como ee possivel explicar que uma vez que a linguagem emerge como fenomeno universal de socializacao, tenha se desenvolvido tamanha diversidade de culturas e de linguagens, e desenvolvimentos tao diversos e dispares?
na teoria da evolucao, considera-se que a diversidade provem de um acontecimento unico: bioquimico, no biologico; comunicativo, no social.
os sistemas abertos respondem a essa referencia teorica, na medida em que os estimulos provenientes do meio podem modificar a estrutura do sistema: uma mutacao nao prevista, no caso biologico; uma comunicacao surpreendente, no social. esses estimulos exteriores devem levar a selecao de novas estruturas e, posteriormente, a prova de consistencia sobre se tais estruturas tem a suficiente solidez para chegar a ser estaveis.
as categorias de variacao, selecao, estabilizacao, empregadas por darwin, consolidaram o modelo dos sistemas abertos na teoria geral dos sistemas, ja que o carater de aberto expressava de maneira patente a dimensao historica e o desenvolvimento da complexidade estrutural contraria a lei da entropia.
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