O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Consideracoes a cerca do input/output em sistemas abertos

Esse pequeno trecho abaixo foi retirado do livro INTRODUCAO A TEORIA DOS SISTEMAS de Niklas Luhmann.

o esquema input/output se dirige, em contrapartida, a relacao mais especifica entre sistemas e sistemas-no-meio. de maneira geral, esse esquema pressupoe que o sistema desenvolva uma elevada indiferenca em relacao ao meio, e que, nesse sentido, este ultimo careca de significacao para o sistema; de tal modo que nao ee o meio que pode decidir quais fatores determinantes propiciam o intercambio, mas somente o sistema. o sistema possui, entao, uma autonomia relativa, na medida em que a partir dele proprio pode-se decidir o que deve ser considerado output, como servico, como prestacao, e possa ser transferido a outros sistemas no meio.

no esquema input/output, visto sem muita minucia, existem duas variantes: a primeira extrai seus estimulos a partir de um modelo matematico ideal, no qual o sistema transforma uma configuracao de inputs segundo as diretrizes de um modelo. o fundamental, aqui, ee que essa transformacao ee decidida estruturalmente. fala-se, entao, em maquinas no sentido real, ou em maquinas, no sentido de funcoes matematicas: transformacao de inputs em outputs. como se pode observar trata-se de um modelo formal, no qual a inputs com funcoes iguais correspondem outputs iguais. esse esquema foi caracterizado como modelo de maquina ou de fabrica, e dai a critica acirrada que a teoria dos sistemas seja um modelo tecnocratico que nao ee capaz de dar conta da complexidade multifacetada das realidades sociais.

tal modelo, por mais que possa ser complicado e subdividido, sempre volta a reproduzir, em todas as suas fases, a relacao input/output. para o analista de sistemas, esse esquema revela nitidamente uma tecnica de transformacao mediante uma funcao, constituindo, principalmente, um modelo orientado para a predicao, no sentido de que em condicoes determinadas os resultados podem ser previstos.

a transposicao desse modelo para as realidades psiquicas nao pode ser solucionada com sucesso. a psicologia, sem fazer uso expresso da terminologia input/output, chegou a um preceito similar, com o desenho teorico do esquema estimulo/resposta.

no entanto, ja a partir dos anos 1930, a teoria behaviorista havia chegado a conclusao de que esse esquema deveria empregar variaveis intermediarias, que a epoca foram analisadas sob a terminologia da generalizacao. este termo registra duas observacoes que o tornam dificil de ser trabalhado mediante um simples esquema de estimulo/resposta, explicando tais observacoes mediante um unico termo: por um lado, um sistema pode responder a diferentes estimulos do meio com a mesma reacao. malgrado as diversidades do meio, ele elege uma forma homogenea de reacao; isto ee, pode reduzir a complexidade do meio. por outro lado, um sistema pode reagir de maneira diferente a situacoes homogeneas ou constantes; ou seja, pode condicionar a si mesmo, e pode reagir segundo condicoes internas que nao tem nenhuma correlacao imediata com o meio. nesse sentido, ele ee superior ao meio, em aspectos especificos, quanto a sua complexidade. Ambas as funcoes, a da absorcao de inseguridade e a de nivelacao de complexidade, estao obviamente relacionadas. o termo adequado para esta relacao ee generalizacao.

a segunda variante ee a que renuncia a simplificacao matematica, para voltar novamente o olhar para a complexidade do sistema.

frente a essas debilidades teoricas, reagiu-se com o modelo de black box, tomado da cibernetica. tal expressao designa que nao ee possivel conhecer, por sua complexidade, a parte interna do sistema, e que so podem ser analisadas as regularidades de suas relacoes externas. a partir dai, ee possivel deduzir um mecanismo que elucide como o sistema reage a determinados inputs que se desenvolvem em condicoes especificas. somente por meio da observacao das regularidades externas ee possivel ter acesso as estruturas do sistema.

como se pode observar, o modelo black box ee totalmente afim a uma teoria estrutural de sistemas, e tambem consegue se desfazer da imagem rigida do modelo de maquina, ao examinar, isso sim, as interacoes input/output.

no campo dos fenomenos sociais, david easton aplicou o modelo input/ouput para caracterizar o sistema politico, ciente de que se tratava de um fenomeno no qual se deveria empregar um numero consideravelmente grande de inputs. por um lado, o governo se mantem mediante as eleicoes; e, por outro, mediante a recepcao de diferentes inputs de interesses provenientes de grupos ou instituicoes que utilizam o cabresto... Portanto, Easton considera a politica como um mecanismo de transformacao de inputs em outputs decisivos, por meio do qual se distribuem os beneficios em favor do povo. Diante disso, o povo expressa, novamente, seu interesse mediante as eleicoes, ou entao, nomeando representantes de seus interesses, que, mais uma vez, fazem trabalho de cabresto.

contudo, nao foi possivel dar a esse modelo uma formulacao matematica para poder mostrar como a politica, supondo-se condicoes iguais, teria que sempre reagir da mesma maneira.

apenas para imaginar, no campo do social, uma mudanca drasticamente determinante de output que nao esteve condicionada pelo input, ee preciso situar o sistema politico em fins do seculo passado, quando surgem os partidos politicos; ou seja, o parlamento ja nao ee - como se pensou originalmente - a expressao de uma eleicao direta na qual a vontade do cidadao decide a favor de uma pessoa que ocupara o cargo, mas agora temos um meio indireto para conseguir aliancas com a finalidade de obter beneficios politicos. ou tambem se pode observar como o estado reage em seu afa de resolver problemas sociais, e como isto o modifica radicalmente: no caso do estado de bem-estar, que, ao buscar transformar as limitacoes vindas de fora, reproduz politicamente esse mesmo mecanismo. em termos de teoria dos sistemas se diria: sistemas que transformam seu proprio estado, a partir do momento em que consideram seu output como input.

Consideracoes:

No 5 paragrafo, o texto comeca a abordar o que desejo explicitar aqui, ou seja, um sistema pode reduzir a complexidade do meio quando responde a diferentes ou iguais estimulos do meio com a mesma reacao, por outro lado, um sistema pode reagir a diferentes ou iguais situacoes de forma sempre diferente.

Ja no 7 paragrafo o texto apresenta uma outro modelo, o black box admite que nao ee possivel o conhecimento interno do sistema, e que ee a partir da analise da regularidade dos seus comportamentos face a situacoes especificas ee que ee possivel acessar as estruturas do sistema.

E no ultimo paragrafo o texto exemplifica que pode haver mudancas no output que nao estejam condicionadas pelo input, ee citado o exemplo do parlamento.

Podemos tecer alguns singelos comentarios:

Quando um sistema (equipe) reage as situacoes de acordo com ele proprio ele reduz a complexidade do meio e isso ajuda o sistema, por isso que o tal modelo de jogo ee tao importante. Se respondermos aleatoriamente a complexidade do meio nao ee reduzida e isso ee negativo para meu sistema.

Atraves da analise quantitativa de comportamentos em diferentes situacoes passamos a "conhecer" o jogar de uma equipe, isso ee explicitado pelo modelo black box.

Por fim, nem sempre uma mudanca de output esta condicionado por um input, muitas vezes um input gera um output que difere totalmente dele (input). Por exemplo, muitos pais ensinam valores, dao carinho e se dedicam a educacao dos filhos e mesmo assim estes filhos podem vim a se tornar traficantes, bandidos ou qualquer outro tipo de marginais. Outro exemplo ee o fenomeno da globalizacao, que deveria ser algo para aproximar o mundo e nao o distanciar ainda mais. No futebol isso tambem ocorre, por exemplo, um resultado favoravel a um time "x" que nao esta condicionado por um adequado input. Enfim, nao existe uma interdependencia entre input e output, inputs iguais podem gerar diferentes outputs, muitas vezes um determinado input gerara um resultado em funcao deste input, a nao ser que estejamos falando de maquinas.

Um comentário:

Priscilla Marchetto disse...

Interessante, poderia indicar as referências do texto?
Estou estudando cibernética no processo projetual arquitetônico...e abordagens em teoria dos sistemas...

=]