O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

domingo, 3 de janeiro de 2010

A vertigem do piloto automatico versus a descoberta guiada

A asserção anterior de Mourinho faz-nos destacar uma problematica levantada por Oliveira, Amieiro, Resende e Barreto quando opuseram duas formas de operacionalizar o que se pretendia para o jogar.

A primeira pode ser entendida como a vertigem do piloto automatico, a que Frade se refere como aquela que os treinadores gostam de ver os seus jogadores a funcionar sobre carris. Assim, segundo Oliveira, Amieiro, Resende e Barreto, o treinar torna-se militarizado, no sentido do treinador dar as ordens e os jogadores as seguirem a risca. Exagera-se na utilizacao de regras nos exercicios castrando os jogadores ao retirar-lhes a capacidade de intervencao sobre o imediato. Os feedbacks dao as respostas, como joga por fora, tira da pressao, etc. e pratica-se exaustivamente as combinacoes ofensivas. Tambem Queiroz, referindo-se ao passado da preparacao das equipes portuguesas, apontou caracteristicas semelhantes a esta forma de operacionalizar o treino, referindo que os treinadores eram muito diretivos e condutores do treino ao pretenderem dirigir todos os aspectos nos exercicios, gritando constantemente (passa; chuta) e impossibilitando o jogador de pensar, assumir a responsabilidade, de decidir e de desenvolver a criatividade.

A segunda, designada de descoberta guiada, considera todos como elementos ativos do processo e tem o futuro como horizonte. Aqui o treinador intervem com feedbacks indicando o caminho, mas sem dar as respostas.

Assim, refere Mourinho que o dialogo estabelecido com os jogadores é importante [ao nivel da descoberta guiada], mas com consciencia plena daquilo que se pretende atingir. Eu sei onde que ir, eu sei onde quero que eles cheguem. Nao sao eles que pela sua conversa comigo nos vao fazer chegar a um determinado local. Eu sei onde é que quero chegar, agora em vez de lhes dizer nos vamos para ali, quero que sejam eles a descobrir esse caminho. No fundo, o nosso dialogo é um dialogo que esta controlado, e é um dialogo que esta direcionado de uma determinada forma.

Frade apresenta-nos, metaforicamente, um exemplo pratico que permite distinguir estes dois processos, ao referir que uma coisa é fazer um ditado e outra, uma redacao. No ditado o professor dita e eles escrevem exatamente igual ao que é lido e na redacao é o professor que da o tema e os alunos criam o texto. Isto quer dizer que no treino é a mesma coisa, e uma vez que o treino cria o jogo é importante os jogadores assumirem consciencia, decisoes, opinioes, serem corpos ativos e desenvolverem a autonomia e a criatividade em funcao do que se pretende.

Por fim, distinguimos que o primeiro processo pretende fixar um mecanismo mecanico e, o segundo, um caminho que se faz caminhando de forma guiada.

Nenhum comentário: