"Podar minutos, segundos e centesimos de segundo tornou-se uma obsessao em praticamente todos os segmentos da sociedade." (Gleck, 2003, pp. 18).
"Vi posters na estrada a recordar-nos que a primeira causa de acidentes ee a velocidade. Eu coloca-los-ia nos estadios para os futebolistas entenderem a importancia do tempo de cada jogada." (J. Valdano, 2007c).
Vivemos no tempo da pressa, encontramo-nos a acelerar o tempo, os ultimos anos tem sido caracterizados pela compreensao do tempo (Gleick, 2003), motivo pelo qual, como sugere Sobrinho Simoes a generalidade das pessoas, ee vitima do mal da pressa, como designam alguns medicos e sociologos (Gleick, 2003). De fato, nao nos encontramos imunes a este mal social, e a prova disso, ee o carater de alguma urgencia com que temos de realizar esta dissertacao, sob pena de nao cumprirmos os prazos estabelecidos, o mesmo sucedendo com os revisores da mesma que de forma relativamente apressada terao de a avaliar. Nao obstante esta aparente inevitabilidade, devemos tomar como ponto previo a premissa de que a velocidade ee "uma fonte de mal-entendidos" (Morin, 2003).
"Quem sabe se nao estamos a avancar com velocidade cada vez maior e, a certa altura, nao ultrapassaremos a possibilidade de imaginar, podendo haver uma Humanidade futura sobre a qual nao podemos fazer nenhuma ideia" (A. d. Silva, 2002, pp. 104). Trata-se de uma questao que nos obriga a refletir pertinentemente sobre as perigosidades da velocidade na sociedade atual, e por extensao na qualidade do futebol e dos processos de formacao, que imbuidos pela pressa vertiginosa, veem hipotecada a criatividade dos jogadores, por verem ultrapassadas por tal pressa as "possibilidades de imaginar".
A sociologia tem vindo a aperceber-se que os niveis crescentes de riqueza e de instrucao tem acarretado um crescente sentimento de tensao em relacao ao tempo (Gleick, 2003).
Os intensificadores, compressores do tempo, sao cada vez mais uma realidade presente no nosso quotidiano, sendo evidentes ate nas coisas mais simples, que vao desde o pao ja fatiado e sem codea que comemos, a utilizacao de telecomandos para nao perdemos tempo, ou ainda, as calcas que compramos ja pre-cocadas e pre-remendadas, antecipando precocemente o futuro destes materiais (Gleick, 2003).
A pressa, apoderou-se de forma bastante significativa da sociedade, ao ponto de podermos especular sobre a possibilidade, desta se repecurtir em alguns tracos caracterizadores da especie Humana. Parece haver alguns indicios, que sugerem o enraizamento deste mal social na nossa especie (Sobrinho Simoes).
Podemos especular, se o tempo de gestacao dos fetos que tende de forma apressada a ser encurtado, nao sera uma consequencia do mal da pressa. Sao cada vez mais, os bebes que nascem prematuramente, o que tem associado uma elevada perigosidade (Cintra, 2006). A este respeito Dunbar (2006, pp. 35) adverte, que "os bebes humanos nascidos no final de uma gestacao normal sao apenas capazes de sobreviver; aqueles que nascem mais cedo estao na realidade a tornar demasiado fina a linha da vida."
A pressa, "afeta logo as criancas atraves da insuficiente disponibilizacao dos pais. Eu acho que ee o pior problema. Quer dizer, a crianca que ainda nao esta nessa fase, da pressa, percebe que os pais estao. E agora sao ambos profissionais enquanto que ha duas geracoes nao eram, portanto, ha problemas. Os pais nao estao em casa, os pais tem muito menos tempo para serem verdadeiramente exemplares, os pais chegam a casa cansadissimos e, de fato, houve uma substituicao dos pais pela escola e pelos tempos de acompanhamento extra-escolar." (Sobrinho Simoes).
Vivemos num periodo cultural de aceleracao, uma perversidade da pressa instigada pela sede insaciavel de tempo, que se encontra fortemente fomentada pela sociedade industrial (Gleick, 2003), o qual exerce a sua influencia desde os momentos mais precoces da Vida, e que ee um reflexo, da sociedade industrial, que como vimos tem sobre o futebol um impacto tremendo, ajudando deste modo a perceber como este "mal da pressa", afeta o futebol.
P. Varela (2006) salienta, que esta realidade apressada conduz a uma excessiva ansiedade, algo que caracteriza as sociedades atuais, e se repercute numa deturpacao do sentido da vida e da transcendencia. Uma opiniao partilhada tambem por Goleman (2003), que sugere que a ansiedade que caracteriza cada vez mais pessoas ee, uma ansiedade negativa por ser geralmente desproporcionada e deslocada. Encontramo-nos culturalmente condenados a ansiedade, o que leva a adocao por parte da sociedade de comportamentos psicoticos, o que se revela profundamente drastico para a forma como os mais jovens se desenvolvem (Capra, 2005). Por este motivo, Sobrinho Simoes, nao tem duvidas em afirmar, que "se tiver que identificar um aspecto negativo da evolucao da sociedade, no que diz respeito a organizacao familiar, parte dele ee resultado dessa pressa", sugerindo ainda, que tal tem repercussoes a nivel patologico, que se expressam de formas muito diversas, podendo mesmo classificar-se tais estados como sendo verdadeiras doencas, das quais resultam alteracoes gravissimas ao nivel do cansaco, defices de atencao, fibromialgias, hiperatividade, entre outras alteracoes.
Pode depreender-se assim, o quanto pode ser perniciosa a edificacao de pessoas cuja formacao decorre neste contexto doentio. Podendo antever-se tambem o que podera suceder, se tal se verificar igualmente na formacao de jovens talentos. Ou seja, perante tal contexto, o risco do futebol ficar doente, "psicotico", e de por tudo o que ja salientamos, nao somente ser contagiado mas tambem contagiar a sociedade parece-nos ser bastante elevado.
Um aspecto que importa evidenciar ee, que os crescentes niveis de ansiedade e stress sao construcoes sociais (Goleman, 2006), que como tal contribuem para o emergir de um paradigma que afeta todos os que se encontram nele inseridos. A este respeito, Sobrinho Simoes, refere algo que consideramos muito relevante quando adverte que a aquisicao de comportamentos, e de indicios reveladores do mal da pressa nas criancas, "sao no fundo, semelhantes aos dos pais, eles tem-nos por um aspecto mimetico, nao ee que eles tenham razoes objetivas para isso. Os miudos mantem, apesar de tudo, uma boa performance, mas nao ee ai que esta o problema; o problema ee muito mais eles verem a vida desgracada dos pais e dos avos." Este fato permite perceber porque motivos, as ramificacoes dos males da pressa se estendem a diferentes fenomenos. Evidenciando tambem, uma dimensao muito importante, o mimetismo, no que a aquisicao de comportamentos diz respeito, e que como veremos mais adiante, se revela significativo para a formacao de talentos no futebol.
As novas "doencas da civilizacao", associadas a pressa tem de ser combatidas em tempo util, pois caso contrario instalar-se-ao de forma "cronica" (Castro, 2006). A vida emocional das pessoas encontra-se condicionada pela "instantaneidade" (Gleick, 2003), nas sociedades atuais o esforco deixou de ser valorizado em detrimento de uma moda orientada pelo "culto do desejo, e de sua satisfacao imediata (Lipovetsky, 1989). Julgamos por isso que face a tais obsessoes sociais, importa interiorizar os ensinamentos de A. d. Silva (2002) segundo o qual a Vida tambem ee para perder anos, nao ee so para ganhar, sendo para tal necessario dar tempo ao tempo, uma vez que a vida deve ser vivida com calma. "No emprego a subtileza significa produzir mais fazendo intervalos mais frequentes (...) Na estrada, a subtileza significa uma abordagem mais calma da conducao, melhorando a velocidade e a economia de todos os condutores, ao abrandar em alturas em que o impulso seria acelerar." (Tenner, 1996, cit. por Gleick, 2003, pp. 77). Conselhos que devem ser assimilados tambem pelo desporto, e em particular pelo futebol. De acordo com Tani (2002) a nocao de "timing", assume uma importancia muito relevante para os desempenhos desportivos, podendo considerar-se que as condicoes para a resposta sao favoraveis quando a mesma pode ser efetuada sem pressa, no melhor momento, conferindo ao mesmo tempo ao organismo um estado pos-resposta satisfatorio. A nocao de timing, vai de encontro a necessidade de ausencia de pressa, e da necessidade de subtileza, o que quanto a nos ee de extrema relevancia. No entanto, o desporto atual encontra na "velocidade" uma palavra-chave (P. C. e. Silva, 2007). E de fato concordamos com tal afirmacao, no entanto advertimos para o fato desta "velocidade", nao somente pode ser perniciosa, se indevidamente entendida, mas tambem, e por conseguinte, para a necessidade de conferirmos a este conceito, um sentido polissemico. Ou seja, julgamos ser mais ajustado referir por isso mesmo as velocidades, e nao a velocidade como a palavra-chave do desporto.
J.G. Oliveira (2004) esclarece que para se efetuar determinada acao com exito, esta se pode realizar sem movimento ou a grande velocidade, dependendo do contexto do envolvimento, relativizando deste modo, o convencional conceito de "velocidade". Importa tambem realcar, que ee desde ha muito sabido, que existe uma relacao inversa entre velocidade ou pressa e a qualidade dos desempenhos (Fitts, 1954; Woodworth, 1899, cit. por Tani, 2002).
No que se refere ao futebol, tambem este se encontra atormentado pela pressa, podendo mesmo definir-se como um "mundo de impaciencia" (J. A. Santos, 2004), isto apesar de como adverte J. Valdano (1998) a impaciencia nao apresentar quaisquer virtudes pedagogicas. Contudo, aquilo que parece caracterizar o futebol atual ee um aumento desta "impaciencia", em consonancia com o que se verifica na sociedade em geral.
Amieiro (2005) apelida este estado de impaciencia de "vertigem da pressa", algo que se revela em campo pelo desejo dos jogadores fazerem tudo de forma apressada, algo que como sugere, contraria aspectos fundamentais do futebol de qualidade, no qual ee decisivo, correr e parar, acelerar e travar, antecipar e esperar. Lobo (2007, pp. 108) adverte que do mesmo modo que se torna impossivel ler apressadamente um bom livro, "ee impossivel ler um bom jogo em alta velocidade", destacando igualmente a necessidade de fazer devidamente as pausas que o jogo requisita, para que este possa ser alvo de uma leitura mais ajustada. A pausa ee, o segredo dos grandes jogadores e equipes de futebol (J. Valdano, 1998).
Michael Laudrup (s/d, cit. por Lobo, 2007) prognostica que no futuro, nao havera lugar no futebol a jogadores como ele, pois todos irao "preferir atletas", o que evidencia que jogadores como o ex. internacional dinamarques, que conheciam a importancia da pausa no jogo nao tera mais lugar. "Futebol ee um esporte dificil nao ee, para qualquer um nao (...) no meu tempo o futebol era jogado com mais classe, mas muito lento, valia mais a qualidade do jogador como um organizador, como um finalizador. Hoje o que vale ee, a velocidade. O Homem tem que ser mais veloz, futebol tem de ser jogado com mais rapidez, e o Homem tambem, ele quase se iguala a velocidade do jogo, entende. O Homem hoje tem de ser muito veloz para jogar futebol. Mudou muito". (Moreira & Moreira, 2006).
Alguns autores (Lobo, 2007; J. Valdano, 1998) realcam a importancia da ausencia de pressa no futebol, ao evidenciarem que jogadores "grandes" como, Rivaldo, Giovanni, Suker, Romario, Kiko, Zidane, Deco, Rui Costa, Kaka ou Baggio apresentavam em comum, o fato de "nenhum ter pressa", isto apesar de por vezes serem catalogados de lentos, uma "ilusao optica" (Lobo, 2007). "A aparente lentidao ee uma mentira do corpo, o disfarce que usam os que tem a velocidade escondida na inteligencia" (J. Valdano, 1998, pp. 141).
Garganta (1999), salienta que o futebol se caracteriza por um aumento da velocidade, fato corroborado por Lobo (2007) que destaca que o tempo para pensar escasseia, motivo pelo qual os jogadores tem de decidir apressadamente. A este respeito importa advertir para o que foi referido anteriormente em relacao a correlacao inversa existente, entre velocidade e proficiencia. O futebol atual tende deste modo, a perder proficiencia e qualidade, pelo excesso de pressa que de uma forma geral o caracterizam.
Em Portugal, a pressa encontra nos estadios um espaco privilegiado para se manifestar, como denunciou Andrade (2003), ao salientar, que a principal diferenca entre o futebol espanhol e o portugues reside no fato de em Portugal, se pretender fazer tudo com pressa, em vez de se pensar mais o jogo, como sucede em Espanha.
Importa contudo salientar que a perniciosidade da pressa no futebol, nao se reflete somente, na forma como o jogo se expressa em campo, uma vez que, se repercute tambem na forma como os jogares e os talentos se constroem, os quais sao cada vez mais cozinhados em panelas de pressao, um bom exemplo de itensificador. A formacao de jogadores desde idades muito precoces caracteriza-se por conseguinte, como um processo de formacao desajustado que padece da "vertigem da pressa". A formacao de jovens jogadores de futebol pode catalogar-se pela palavra rapido, caracterizando-se desta forma por uma logica imediatista, que como ja salientamos ee altamente perniciosa, uma vez que "o progresso humano ee lento" (Reeves et al., 2006, pp. 122).
Importa salientar, que o conjunto de alteracoes sociais verificadas nas ultimas decadas, tem tudo consequencias muito nefastas para o desenvolvimento e formacao das criancas. Apesar do homo sapiens ainda ser lento a tornar-se adulto, a infancia tem sido claramente encurtada (Jones, 2006), o que em nosso entendimento ee altamente pernicioso, uma vez que "o homem nao admite processos rapidissimos" (V. Frade, 1979, pp. 11). Podemos assim especular que as criancas e os jovens, se encontram a desenvolver com base numa cronobiologia que lhes ee estranha, e propria dos adultos, motivo pelo qual tendem a tornar-se adultos a pressa. Alteracoes que levam os jovens a viverem sob relogios de adultos, algo que consideramos bastante plausivel, somatizando desde idades muito precoces o mal da pressa. De acordo com Capra (2005) interiorizamos a tensao e o stress ao ponto de patologicamente os somatizarmos. Nao devendo ignorar-se o fato, de que os relogios biologicos e os ritmos circadianos sao construcoes culturais e sociais, "a sincronizacao dos nossos ritmos faz-se essencialmente atraves da utilizacao de sinais sociais" (Reinberg, 1994, pp. 50). De acordo com o sugerido por Ginsburg (2007), a falta de tempo para brincar, decorrente da vida cada vez mais atarefada que as criancas tem, obriga-as de uma forma extremamente precoce a encetarem por uma vida orientada em funcao de um ritmo de vida tipico dos adultos. Gleick (2003), apresenta uma opiniao consonante com o autor anterior, salientando igualmente que o fato das criancas terem deixado de ter tempo para brincar, implica igualmente uma reducao no desenvolvimento do espirito criativo e da espontaneidade, tracos que como salientaremos mais adiante neste trabalho enriquecem significativamente o futebol. Estes fatos, quando manifestados na formacao de jogadores conduzem a "vertigem pelo piloto automatico", ou a um tipo de formacao "sobre carris", que leva a nao formacao, isto ee, a formatacao de jogadores, que deste modo se constroem sem criatividade, autonomia e com comportamentos altamente estereotipados (B. Oliveira, et al., 2006). A este respeito, Laig (1978, cit. por Capra, 2005, pp.370), salienta e indo de encontro ao que foi referido por Sobrinho Simoes, que tal se tem refletido num crescente numero de criancas com problemas psiquiatricos, acrescentando que, estamos a tornarmo-nos mais eficazes na conducao das criancas a loucura, do que na educacao das mesmas, suspeitando que tal fato, podera ser devido a forma como as estamos a educar, e que as tem conduzido a "loucura". Tambem Goleman (2003, pp. 262) salienta que a sociedade cada vez mais sedentaria e acomodada, esta a caminhar para a "Era da Depressao", uma "epidemia" que como o proprio salienta, se esta a apoderar das populacoes mais jovens. "A depressao infantil, outrora praticamente desconhecida (ou pelo menos nao reconhecida) esta a emergir como uma caracteristica constante da cena moderna. Panksepp (1998) apresenta a hipotese, do sindrome de hiperatividade infantil, que ee crescente nas nossas sociedades, resultar do fato dessas criancas serem privadas de quantidades adequadas de brincadeiras. O que nos leva a questionar e especular se a "vertigem da pressa" que caracteriza o jogo, o podera tornar "hiperativo", e se tal podera estar relacionado com um hipotetico, reduzido e possivelmente desajustado tempo, que ee proporcionado aos jovens para desfrutarem do jogo?! "Em ciencia, fazer a pergunta certa ee muitas vezes a chave para encontrar a resposta." (Hawking, 2002, pp. 142).
Aquilo para o qual queremos alertar ee, para os perigos de estarmos a submeter os jovens a uma formacao "psicotica" e ou "depressiva", e tambem para as repercussoes que tal pode representar, para a qualidade dos talentos, e por consequencia para a qualidade do futuro do futebol.
Para Cruiff (2002) o segredo da formacao de jovens jogadores reside no fato da maturacao destes, se dever fazer lentamente, refutando assim quaisquer logica apressada. No entanto, a pressa em descobrir novos talentos tem se tornado numa obsessao (Lobo, 2007), fato que conjuntamente com o sugerido acima em nosso entendimento ee altamente pernicioso para a qualidade dos jogadores, cuja formacao se deve caracterizar por um processo, que em nosso entendimento, nao se coaduna com logicas apressadas. Todos estes fatos, juntamente com o desejo insano de aprender de forma rapida (Gleick, 2003), levam J. O. Bento (2004) a realcar relativamente a formacao de jogadores, que se trata de uma "transgressao do processo normal de desenvolvimento de um menino", o fato de se submeterem jovens a alteracoes profundas nas suas vidas, obrigando-os a entrar apressadamente na vida adulta, e a apagarem prematuramente os referenciais que os ligam as suas origens, aumentando-se deste modo, segundo este autor, "a vulnerabilidade do menino".
Tem se observado na formacao de jogadores de futebol, que o desejo de alcancar objetivos imediatos tem sido enfatizado, repercutindo-se no interiorizar de erros que posteriormente sao dificilmente corrigidos, por nao se conceber este processo como um processo moroso, que nao se coaduna com logicas apressadas (Pacheco, 2001). Por estes motivos, sugerimos que o processo de construcao de talentos deve ser perspectivado a longo prazo, isto ee, respeitando uma logica de periodizacao a la long.
Outro fato que caracteriza a sociedade apressada e consumista em que nos encontramos ee, a logica de "comprar pronto" (Gleick, J., 2003), algo que quanto a nos, tem reflexos muito evidentes no modo como ee atualmente concebida a formacao de jogadores, e no descredito que se lhe encontra por vezes associada. A logica de comprar pronto tem tambem caracterizado as politicas de contratacoes dos clubes de futebol, especialmente em Portugal, onde o numero de estrangeiros contratados pelos clubes ee crescente, o que se repercute numa deturpada ou por vezes ate inexistente, concepcao para as respectivas formacoes.
Deste modo, os clubes negligenciam a necessidade de desenvolver modelos para a formacao, e de estabelecerem objetivos e prioridades, preferindo, com excecao de alguns clubes, desconsiderar a formacao, apesar de paradoxalmente se demonstrarem interessados em mante-la, com o intuito de passarem um estatuto social aumentado, ou ainda, para poderem beneficiar dos financiamentos destinados a formacao, os quais nao raras vezes servem para pagar salarios, geralmente muito inflacionados aos jogadores recrutados (comprados ja feitos). Ignorando deste modo, potenciais jogadores de qualidade formados no clube, que caso lhes fossem proporcionadas oportunidades se mostrariam possivelmente bastante motivados, os quais muito provavelmente seriam mais rentaveis em termos financeiros, por auferirem de salarios mais baixos, e por poderem no futuro tornarem-se ativos bastante rentabilizados, capazes inclusive de ajudar os clubes a sobreviverem as crises financeiras que os atravessam. Em vez disso, os clubes permanecem obstinados numa logica linear, que nao se coaduna com sistemas abertos, nao-lineares afastados do equilibrio (Capra, 1996), como ee o caso do futebol (Garganta, J. 2001) hipotecando desta forma, possiveis lucros futuros decorrentes de hipoteticas vendas dos jogadores provenientes da formacao.
Indo de encontro ao que acabamos de referir, R. Santos (2000) denuncia, a existencia de "clubes que tem mais de uma centena de jovens atletas (jogadores) em atividade que servem unicamente de montra", especulando de forma intrigada, acerca das condicoes proporcionadas a esses jovens para os respectivos desenvolvimentos.
Em forma de conclusao, no que se refere a pressa instalada no futebol, parece-nos que a solucao para reverter este mal social, ee reconhecendo valor a sabedoria popular, que de forma empirica sugere e pelo exposto, com fundamento que, "depressa e bem ha pouco quem", e que, "devagar se vai ao longe".
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