"Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenomenos biologicos, psicologicos, sociais e ambientais sao todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecologica que a visao de mundo cartesiana nao nos oferece." (Capra, 2005, pp. 14).
O fato do futebol poder ser considerado um fenomeno AntropoSocialTotal, confere-lhe uma complexidade acrescida, lancando-se deste modo um desafio acrescido a esta dissertacao, uma vez que "ee evidente que os fenomenos antropossociais nao poderiam obedecer a principios de inteligibilidade menos complexos que os doravante requeridos para os fenomenos naturais. EE-nos preciso enfrentar a complexidade antropossocial e nao dissolve-la ou oculta-la" (Morin, 2003, pp. 21).
Quando nos reportamos ao futebol, torna-se fundamental ter em consideracao que as variaveis em estudo sao sempre complexas, e que se encontram implicadas mutuamente (Paulo Cunha e Silva).
Como adverte Capra (2005, pp. 14) "vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenomenos biologicos, psicologicos, sociais e ambientais sao todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecologica que a visao de mundo cartesiana nao nos oferece", acrescentando ainda a necessidade de "um novo paradigma". Ainda segundo este autor, o "pensamento complexo" apresenta-se como uma forma de suprir, "a visao de mundo cartesiana".
"A complexidade situa-se num ponto de partida para a acao mais rica, menos multiladora. Creio profundamente que quanto menos um pensamento for mutilador, menos mutilara os humanos. EE preciso lembrar os estragos que as visoes simplificadoras fizeram, nao apenas no mundo intelectual, mas na vida.
Muitos dos sofrimentos que milhoes de seres suportam resultam dos efeitos do pensamento parcelar e unidimensional" (Morin, 2003, pp. 122). Tambem Paulo Cunha e Silva adverte para os perigos mutiladores que revestem este pensamento, que ainda nos condiciona significativamente, e que impele a necessidade da fragmentacao para nos organizarmos.
Importa contudo realcar, que "a acao humana ee um fenomeno complexo, multidimensional e imprevisivel", podendo dentro desta se englobar o futebol (Lourenco & Ilharco, 2007, pp. 253). O futebol e o desporto em geral sao, atividades exclusivamente humanas, feitas por e para Homens. R. P. Garcia (2006, pp. 16) salienta que no desporto, "acima de tudo veem-se pessoas humanas", acrescentando ainda que a essencia do desporto reside na reflexao sobre a "pessoa humana". O desporto por representar uma criacao do homem, transporta consigo a sua propria natureza (Marques, 2004). O desporto ee ainda, "um campo de demonstracao da extraordinaria competencia do homem e do seu corpo" (Bento, 2007, pp. 24), pois tal como salienta Serpa, (2007, pp. 371) no desporto "ee e sera sempre a pessoa a realizar as acoes que integram e harmonizam as competencias e capacidades necessarias a espetacularidade do alto rendimento." Conseguimos deste modo, descobrir e encontrar no desporto uma forma de encenacao da essencia humana (A. d. S. Costa, 2006).
Sendo o que foi referido valido para o desporto em geral, depreendemos que ee tanto ou mais valido no futebol, um fenomeno (Antropo) Social Mais Total.
Deste modo, e face ao que ja salientamos, urge para o conveniente entendimento deste fenomeno omnipresente no quotidiano das sociedades, uma abordagem nao redutora, mas sim, em complexidade. "EE preciso ver a complexidade onde ela parece em geral ausente, como por exemplo, na vida quotidiana" (Morin, 2003, pp. 83). Apesar do futebol ser praticado, nao raras vezes com o intuito de criar um mundo a parte do real, "ee um fenomeno complexo e atravessado pelas realidades que o circundam" (Valdano, 2002, pp. 47), ou seja, ee parte de um todo maior, ee um fio da extensa "Teia da Vida" (Capra, 1996). Sendo assim importante nao ignorar, que a "relacao antropossocial ee complexa, porque o todo esta na parte, que esta no todo" (Morin, 2003, pp. 109). Importa a este respeito salientar, que o fato de apresentarmos o conceito, por nos sugerido para o futebol, redigido como unicidade, AntopoSocialTotal, pretende evidenciar o que nos sugere Morin (2003), ou seja, "que o todo esta na parte, que esta no todo".
De acordo com J. O. Bento (2004, pp. 199), para quem o futebol ee um "romantico de carne e osso", podemos caracteriza-lo por ser "feito por homens" e ser capaz de fazer os "homens arqueados, mais direitos, menos soturnos, mais alegres e transparentes, de coracao mais potente, de passadas mais amplas e de bracos mais fortes e apertados", contituindo-se deste modo, face ao exposto como um fenomeno fundamental na edificacao do homem, logo AntropoSocialTotal.
Com o intuito de compreender e desvendar as multiplas conexoes que o futebol estabelece com o homem, devemos encetar uma abordagem cientifica "humanologica", logo complexa, visto que "as regras que gerem esse mundo de contrastes nao sao escritas, estao implicitas nas relacoes humanas" (J. A. Santos, 2004, pp. 219), reforcando-se deste modo, a pertinencia da adocao do prefixo "Antropo", ao conceito apresentado por Mauss (1979).
Consideramos, que partindo do pressuposto de que o futebol ee, um fenomeno AntropoSocialTotal, "no treino, como na competicao, o futebol so tem a ganhar se asumir frontalmente a sua humanidade" (Garganta, 2004, pp. 228).
"A minha ideia de que estamos na pre-historia do espirito humano ee uma ideia muito otimista. Abre-nos o futuro se acaso a humanidade vier a ter futuro" (Morin, 2003, pp. 147). Talvez tambem no futebol, o encontro com o humano ainda esteja na pre-historia, e a padecer dos males da ciencia mutiladora (Sobral, 1995). Conforme augura J.Bento (2004, pp. 53) afigura-se para as Ciencias do Desporto "uma larga panoplia de perspectivas de crescimento e desenvolvimento". Fato que quanto a nos requisita tambem, uma perspectiva otimista, esperancada na realizacao de um futuro, se possivel melhor, para o futebol. Afinal, "o nada foi, sempre as possibilidades de tudo" (A. d. Silva, 2002, pp. 98).
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