O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Cultura de jogo... uma emergência num grupo de individuos com hábitos de jogo consistentemente similares. Que caminho a percorrer?

Esses valores e prioridades a que acima fizemos referência, quando estabelecidas, têm a ver no jogo com aquilo a que Frade designa por cultura tática, ou seja, um guia de escolhas de ação, referenciado ao conjunto de valores e percepções que decorrem do corpo de significações criado [no treino e jogo]. E esta cultura, entendida nos termos em que Giddens a define como os valores que compartem os membros de um dado grupo, as normas que vigoram e os bens materiais que produzem, significa que uma cultura de jogo está para lá do modelo de jogo definido pelo treinador. Como referiu Goodenough a cultura não é um fenómeno material, não consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoções. É antes uma forma de organização de tudo isso. É a forma das coisas que as pessoas têm na sua mente, os modelos de como as percebem, de como as relacionam e as interpretam.

Quando numa dada equipe o conjunto de hábitos que sustentam uma determinada forma de jogar se encontram assimilados de uma forma consistente pelos jogadores que a constituem, diz-se então que possuem uma cultura de jogo própria, uma identidade.

Da anpalise dos capitulos anteriores podemos sintetizar alguns tópicos que parecem ser fundamentais para que os jogadores possam adquirir esses hábitos, essa cultura com uma determinada forma de jogar:

- É necessário que haja um espaço onde os comportamentos pretendidos possam aparecer;
- Os sujeitos da aprendizagem têm de estar conscientes do(s) comportamento(s) em causa nas situações de aprendizagem (exercicios) para poderem direcionar o foco do seu cérebro e regular as possiveis emoções conflituantes;
- Eles devem manter o foco do cérebro nesse comportamento durante a exercitação e são necessários lembretes constantes para auxiliar a manutenção dessa focalização;
- Até que esses comportamentos seja aprendidos, se tornem hábitos, tem de haver uma repetição sistemática que exige bastante tempo. Quanto maior a sistematização mais eficiente se tornará o processo;
- Os mecanismos inconscientes, entre os quais as emoções, quando modelados por essa repetição sistemática tornam as decisões mais eficazes e mais rápidas;
- As emoções têm um papel decisivo na concentração e por consequência na aprendizagem, devido aos marcadores somáticos, mas também na formação das intenções inconscientes condicionando fortemente as tomadas de decisão;
- Depois de aprendidos os principios, a exercitação deve ser mantida para evitar que esse hábito regrida e a nova modelação emocional (cultura) possa continuar jogar a favor dos novos comportamentos;

E como é que isso se consegue? Como se operacionaliza toda esta modelação? Para conseguir criar uma cultura, Faria opina da seguinte forma: se tu queres instalar uma linguagem comum com regras, principios, uma cultura de jogo, um modelo de jogo (...) é fundamental que isso seja feito através do jogo referindo que para isso é necessário no treino situações que permitam os jogadores estarem identificados com aquilo que se quer que seja a competição (o jogar), ou seja, consegue-se através de treino especifico desse modelo de jogo.

Contudo, este conceito é controverso porque não tem no universo desportivo um entendimento univoco, já que parecem existir diferentes concepções sobre o que é a especificidade. Deste forma, parece-nos pertinente prosseguir com uma abordagem a estra controvérsia.

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