"...o caos ee a ordem (modelo) dentro da desordem (comportamento ao acaso)." (Stacey, 1995, pp. 546).
O futebol coloca-nos o desafio de termos de lidar com a complexidade, tal como foi salientado anteriormente. Por ser um fenomeno constituido por partes complexas das quais resultam um todo ainda mais complexo que a soma dessas partes, coloca um dilema essencial que ee o de "como compreender uma coisa, que a partida ee incompreensivel (...) Como compreender o incomensuravel, aquilo que nao podemos medir?" (Paulo Cunha e Silva). De acordo com Hawking (2002, pp. 105) "nao fomos ainda capazes de prever o comportamento humano a partir de equacoes matematicas." Deparamo-nos deste modo, com a pertinente incognita, de como tentar decifrar o melhor possivel a complexidade inerente ao mundo vivo, sem contudo, a mutilar e sem recurso a "artificios simplificadores" (P. C. e. Silva, 1999).
Entendemos a este respeito, que ee fundamental partirmos do pressuposto, de que a complexidade estabelece contato com o acaso, embora nao se possa reduzir a incerteza, uma vez que se trata de uma incerteza intriseca a sistemas "ricamente" organizados, o que leva, a que a complexidade esteja relacionada com um misto de ordem e de desordem (Morin, 2003), este autor esclarece ainda, que o acaso, sempre indispensavel, nunca se encontra so nem explica tudo, sendo necessario que haja o encontro entre o imprevisivel e uma potencialidade organizadora.
Tal entendimento obriga-nos a enveredar, pela necessidade de um tipo de conhecimento, "O Caos", que depois de descoberto nos obriga a ver o mundo de outro modo (Gleick, 2005). "A ciencia do caos pretende a reconciliacao com o mundo" (Cunha e Silva, 1999, pp. 121). Laborit (1987) refere que o homem tem necessidade de colocar ordem no universo, no entanto, desde ha algumas decadas algumas leis, consideraveis intangiveis, revelaram-se muito menos exclusivas do que se pensava, pois como acrescenta, os fenomenos sao caoticos e imprevisiveis.
Apesar da aparente intangibilidade que caracteriza os sistemas complexos, e que torna incontrolavel as respectivas funcionalidades, atraves de meios de modelizacao contemporaneos, de metamodelizacao, pode compreender-se o comportamento destes fenomenos caoticos visto que estes, "nao vivem angustiados", uma vez que vivem e progridem assentes em "variaveis flutuantes", que lhes permitem contemplar a criatividade (Paulo Cunha e Silva).
A teoria do caos ee, uma teoria matematica, cuja aplicabilidade ee extensivel a generalidade dos fenomenos. Esta teoria tem vindo a ser aplicada tanto nas ciencias "fisicas" como "sociais" (Ruiz, 2006), motivo pelo qual devera ser tambem, em nosso entendimento, aplicavel ao futebol.
Esta "matematica da complexidade", constitui-se como um importante ramo da teoria dos sistemas dinamicos, e corta com o convencionalismo matematico, "ee mais qualitativa do que quantitativa e, desse modo, incorpora a mudanca de enfase caracteristica do pensamento sistemico - de objetos para relacoes, da quantidade para a qualidade, da substancia para o padrao" (Capra, 1996, pp. 99).
Conforme salienta Gaiteiro (2006), o sucesso de todas as organizacoes, incluindo as existentes no futebol, numa sociedade como a atual ee determinado de forma cada vez mais marcante, pela capacidade de gestao da mudanca e do imprevisivel, acrescentando por isso, que no futebol, onde as equipes se comportam como sistemas dinamicos interrelacionados e sobrepostos, "sistema de sistemas", como ja referimos, a aplicacao dos novos conceitos emergentes da teoria do caos mostra-se bastante promissor. Com a teoria do caos, procura-se trazer ordem ao caos que caracteriza os sistemas complexos (Capra, 1996), os quais como sugere P. C. e. Silva (1999) sao necessariamente caoticos, uma vez que ee o caos, que lhes permite "misturar as coisas", e consequentemente criar novas direcoes que possibilitam a evolucao do sistema. Este autor realca dentro desta teoria, a emergencia do "caos deterministico", depois da "paradoxal evolucao" observada em torno do conceito de caos durante cerca de 3 decadas. Como esclarece, este novo caos encontra-se despido do "catastrofismo incontornavel" que caracterizou as primeiras abordagens, e reporta-se ao comportamento nao periodico de sistemas dinamicos, que sao caracterizados pela possibilidade de evoluirem, a partir de condicoes iniciais de extrema sensibilidade. Para Ekeland (1999) a grande licao que a teoria do caos nos da ee, a de que a incerteza nao esta ligada a complexidade, definindo os sistemas caoticos, como sistemas capazes de produzirem por si proprios sem necessitarem de recorrer a fontes exteriores, acrescentando ainda, que sao profundamente instaveis, e caracterizados pelo fato de pequenos desvios iniciais originarem de forma celere grandes afastamentos, ou seja, caracterizam-se pela extrema sensibilidade as condicoes iniciais (Capra, 1996; Ruiz, 2006).
O futebol ee um fenomeno caracterizado pela extrema sensibilidade as condicoes iniciais, visto que "ee um sistema cuja evolucao, temos imensa dificuldade em perceber, se nao tivermos em atencao que ee feito a partir da soma de todas essas complexidades. E a soma de todas as complexidades, produz uma complexidade, ainda maior." (Paulo Cunha e Silva).
Podemos depreender, que uma decisao por muito insignificante que possa parecer a priori podera ter repercussoes muito significativas no desenrolar dos acontecimentos futuros do jogo. Por exemplo, a lesao de um jogador, uma substituicao indevidamente ponderada, ou ainda uma grande penalidade falhada, poderao ser determinantes para o decurso dos acontecimentos e do comportamento revelado pelas equipes, o mesmo sucedendo tambem, quando nao ee concedido a equipe tempo suficiente para realizarem no periodo que antecede a competicao, uma adequada pre-ativacao para introducao a competicao. Um aspecto, que pelo que temos observado ee descurado em nao raras vezes nos escaloes de formacao, o que se repercute, no posterior desempenho dos jovens e das equipes.
A necessidade de atender a extrema sensibilidade as condicoes iniciais, no futebol implica, que todos os aspectos que se relacionam com o jogar, com o competir e com o treinar, sejam devidamente ponderados. Algo que nem sempre sucede, e de modo mais significativo nos escaloes de formacao, onde a carolice e amadorismo mesmo que revestidos de boa vontade, nao se compadece com a essencia do jogo. O que realca a necessidade, de qualificar todos aqueles que intervem nos processos de formacao, de modo, a que os pormenores que envolvem o jogo, nao se tornem em pormaiores.
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