"...o treino tem a capacidade de fabricar atratores em territorios (comportamentos) motores desconhecidos. Ao criar esses territorios, essa nova acao passa a ser familiar para quem a pratica, a estranheza a variabilidade (no sentido da descoordenacao) inicial ee substituida pela familiaridade posterior". (P. C. e. Silva, 1999, pp. 110).
A teoria do caos, por permitir encontrar caracteristicas e comportamentos invariantes e auto-referentes, os quais se prolongam no desenrolar dos sistemas, possibilita que se revelem e identifiquem tendencias, que caem num grau probalistico que podera ser inferido (Paulo Cunha e Silva). A geometria fractal, remete-nos para o conceito de "atratores estranhos", os quais sao exemplos "extraordinarios" de fractais (Capra, 1996). Algo, que ee tambem salientado por P. C. e. Silva (1999) que se refere aos atratores estranhos, como a imagem mais visivel de um lugar fractal. Acrescentando, que se trata de um lugar que se desdobra, numa infinidade de lugares possiveis, mantendo contudo, o respeito por um qualquer centro. Segundo Capra (1996) a designacao de atrator, explica-se uma vez que segundo os matematicos, este permite representar o ponto fixo, no centro do sistema que "atrai" a sua trajetoria (Capra, 1996). Conforme refere Gleick (2005) os atratores estranhos tem por definicao, a importante propriedade de estabilidade. A finalidade dos atratores estranhos ee, face ao comportamento caotico, determinista e padronizado, permitir transformar a aleatoriedade aparente em formas visiveis, procurando-se atraves deles, predizer as caracteristias qualitativas do comportamento de um sistema (Capra, 1996).
Os atratores estranhos vivem em "espacos de fase", um espaco em que o estado completo de conhecimento sobre um determinado sistema dinamico, num determinado instante de tempo colapsa num ponto (Gleick, 2005). Ou seja, corresponde a um ponto que em determinado instante, representa a totalidade do sistema. De acordo com Gaiteiro (2006) este espaco pode ser considerado, abstrato, nao topologico, conjectural, multidimensional e pode assumir tantas dimensoes quantas as variaveis que caracterizam o comportamento do sistema, expressando ainda, a totalidade de possibilidades comportamentais, representando deste modo num unico ponto todas as caracteristicas do sistema. O espaco de fase pode deste modo ser entendido, como um retrato fiel da realidade (Gleick, 2005). Por este motivo, Capra (1996) designa de "retrato de fase", a figura dinamica de todo o sistema, sendo que esta resulta, da classificacao dos atratores e das bacias de atracao, de acordo com as suas caracteristicas topologicas.
Este autor, alerta para o fato de ser uma caracteristica comum a todos os sistemas caoticos, a impossibilidade de predizer, por que ponto do espaco de fase, passara a trajetorio do atrator num determinado instante, contudo esclarece, que tal nao significa que a teoria do caos nao consiga efetuar qualquer tipo de previsao, pelo contrario, permite efetuar previsoes bastante precisas, que contudo, se reportam as caracteristicas qualitativas do comportamento do sistema.
Temos vindo a sugerir que o futebol ee um sistema caotico, como tal, o caos que o caracteriza cai num determinado campo de possibilidades, ou de tendencias, isto ee, numa bacia de atracao que devera ser construida (Paulo Cunha e Silva). A previsibilidade com que se manifestam, as caracteristicas qualitativas de um jogar, sendo uma bacia de atracao, comporta-se como a ancora que suporta esse jogar. Para que a construcao dessa bacia de atracao seja possivel, torna-se determinante que o processo em termos macro, obedeca e tenha subjacente uma determinada "filosofia", a qual possibilite a equipe, a expressao de um padrao de problemas e a possibilidade de com base nessa identidade, responder ao padrao de problemas colocado pelos adversarios (Marisa Gomes).
O reconhecimento da possibilidade de previsao das caracteristicas qualitativas de um sistema, como por exemplo a equipe ou os jogadores, torna pertinente a reformulacao do modo como geralmente se efetuam as analises ou observacoes de jogo, por norma quantitativas. O futebol requisita tambem a este nivel, uma mudanca de paradigma, devendo passar da observacao quantitativa para a qualitativa. Entendemos deste modo, que uma abordagem qualitativa, deve procurar a identificacao de um retrato de fase, uma figura dinamica do jogar das equipes, e ainda tentar identificar quais as suas bacias de atracao. Devemos entender uma "bacia de atracao", como uma determinada regiao do espaco de fase, em que se iniciam mais tarde, ou mais cedo, todas as trajetorias (Capra, 1996). Extrapolando para o futebol, a deteccao das bacias de atracao de uma equipe, permitir-nos-a perceber e identificar quais as regularidades tendenciais das equipes, e com isto decifrar ou aferir o modo como os Principios de Jogo se expressam, e ainda quais os jogadores, que corporizam tais bacias de atracao. Isto ee, quais os jogadores referencia que assumem maior preponderancia na dinamica de todo o sistema que ee a equipe. Ou ainda, perceber quais as zonas do campo mais exploradas pela equipe, entre muitas outras regularidades. O jogo diz-nos tudo, mas a grande questao ee saber o que lhe perguntar (Garganta, 2006a). "O CONHECIMENTO necessario ee o de OBSERVAR O QUE." (Edgar Allan Poe, s/d, cit. por V. M. d. C. Frade, 1990, pp. 2).
Importa contudo relembrar, que sendo o jogo um sistema caotico, este ee igualmente caracterizado pela extrema sensibilidade as condicoes iniciais, e que como tal, um pequeno desvio inicial, pode representar desvios enormes numa escala maior (Capra, 1996; Ekeland, 1995). Como tal, a utilizacao da informacao proveniente da observacao e analise qualitativa do jogo, devera ser operacionalizada e contemplada com bastante parcimonia, sob pena de descaracterizar o retrato de fase (Modelo de Jogo) da propria equipe, entrando deste modo, num "ponto de bifurcacao" que podera, ser altamente pernicioso.
Os pontos de bifurcacao sao, novos atratores que surgem subitamente, caracterizados por serem estruturalmente instaveis, e permitirem a evolucao, mas tambem (in)volucao do sistema numa nova direcao.
Por este motivo Frade (2002, cit. por Amieiro, 2005, pp. 68/69) adverte que, "preocuparmo-nos em demasia com a dimensao estrategica pode levar-nos a alterar em demasia aspectos todos como fundamentais no que se refere a nossa concepcao de jogo", acrescentando que "a enfase colocada na dimensao estrategica pode interferir com aquilo que sao os principios de jogo".
Ou seja, a contemplacao desajustada, das "alteracoes estrategias de circunstancia" (V. Frade, 1985), a dimensao estrategica, pode tornar-se um "atrator estranho", ou um "buraco negro" (B. Oliveira et al., 2006).
Sendo o jogo um sistema caotico, e como tal extremamente sensivel as condicoes iniciais, aquilo que pode a partida ser um pormenor na dinamica e organizacao coletiva de uma equipe, rapidamente podera se revelar como "pormaiores", capazes de se transformem em verdadeiros desastres coletivos.
Nao obstante, nao devemos esquecer que "se conheces o teu adversario como a ti mesmo nao receies uma centena de batalhar, se te conheces, mas nao conheces o adversario, por cada vitoria sofreras uma derrota, se nao te conheces nem conheces o adversario, sucumbiras em cada batalha" (Tzu, 1994). Os atratores estranhos, revelam-se fundamentais para conhecermos nao somente o adversario, mas tambem as proprias equipes, no sentido em que poderao revelar determinadas regularidades, que passam aparentemente despercebidas aos treinadores, mas que na realidade, pela essencia caotica do sistema se assumem como relevantes. Estes atratores poderao ser beneficos para o jogar das equipes, e como tal a sua identificacao, pertinente no sentido de os contemplar no treino, algo que nao sucede se o treinador for incapaz de os identificar. Nao obstante, os atratores podem igualmente ser contraproducentes para uma determinada forma de jogar, e deste modo, sendo um estorvo, deverao ser detectados e erradicados precocemente, para evitar que atraves de um processo continuado, treino e competicao, desenvolvam um retrato de fase, que se contrapoe aos intentos do treinador, impossibilitando-o de dar forma ao retrato de fase que deseja, o modelo de jogo da sua equipe. A necessidade de detectacao precoce destes desvios indesejados, com o intuito de nao se treinarem e enraizarem erros, realcam a importancia de desde idades muito precoces, a avaliacao do processo se fazer atendendo a uma abordagem qualitativa, e nao estritamente quantitativa, como acontece por norma (B.Oliveira et al., 2006). De acordo com Gaiteiro (2006), o fato do sistema caotico evidenciar sensibilidade anormal as perturbacoes e flutuacoes, apesar de se caracterizar por globalmente estavel, do qual ee sinonimo o atrator estranho, encerra tambem uma fonte de regularidade, aleatoriedade e imprevisibilidade, a nivel local, evidenciada atraves de trajetorias irrepetiveis. Por este motivo, "o jogo de qualidade tem demasiado jogo, para ser ciencia, mas ee demasiado cientifico para ser so jogo" (V. Frade, 2006). Isto ee, comporta simultaneamente um plano cientificavel, que requisita contudo o pensamento sistemico, e que se reporta ao plano dos principios de jogo de uma equipe, as suas regularidades ou invariancias, e comporta tambem um plano de jogo, nao cientificavel, por se constituirem como emergencias, o qual nos reporta para o contingente, para o aleatorio, para o inopinado e ainda para a criatividade.
O reconhecimento de que o jogo contempla estes dois planos ee, quanto a nos determinante, visto que somente deste modo, nao o estaremos a esterilizar e a colocar "num tubo de ensaio", preservando-se deste modo, a essencia daquilo que queremos estudar, o jogo (Paulo Cunha e Silva). Em conformidade V. Frade (1979, pp. 9) afirma que a "aprendizagem nao ee um fenomeno IN VITRO, isto ee, nao ee um problema tecnocratico, de concretizacao mais ou menos mecanica." Entendemos por isso, que atender apenas a uma das dimensoes ee, bastante redutor. Um treinador que considere que tudo no futebol pode ser controlavel, adota uma posicao semelhante a do Deus de Laplace, vive num embuste (Paulo Cunha e Silva), do mesmo modo, consideramos que um treinador para o qual, nada existe de cientificavel no jogo, ee alguem que nao acredita nas potencialidades da operacionalizacao do seu processo. "Ou seja, o treino tem a capacidade de fabricar atratores em territorios (comportamentos) motores desconhecidos. Ao criar esses territorios, essa nova acao passa a ser familiar para quem a pratica, a estranheza a variabilidade (no sentido da descoordenacao) inicial ee substituida pela familiaridade posterior". (P. C. e. Silva, 1999, pp. 110).
Sustenta-se deste modo, a necessidade de apreender a pertinencia do processo criar bacias de atracao no futebol, visto que sao estas, que permitem conferir regularidade e o emergir de um padrao identificavel a um sistema instavel, sem os atratores, tenderiamos a uma constante desidentificacao, pela inexistencia de referencias, o que nos colocaria fora-de-jogo.
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