O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A complexidade das equipes torna o jogo complexo

Davids, Araujo e Shuttleworth concordam que uma equipe pode ser considerada um sistema e referem que este ee um sistema dinâmico, no qual interagem vários aspectos, desde jogadores de ambas as equipes, bola, árbitros, torcedores.

O QUE É CAOS? Para um sistema ter comportamento imprevisível – ou caótico –, ele deve obedecer a pelo menos três regras: a) ser dinâmico, ou seja, se alterar à medida que o tempo passa – uma equipe que para responder a equipe adversária precisa a todo o momento alterar seu próprio comportamento e atitude; b) ser não linear, isto é, sua resposta não é proporcional à perturbação – um simples toque errado pode gerar um contra-ataque e um gol; c) ser muito sensível a perturbações mínimas de seu estado, ou seja, uma alteração desprezível no presente pode causar, no longo prazo, uma mudança imprevisível – se na saída de bola o goleiro dar um chutão e nenhum jogador da equipe conseguir pegar a bola isso poderá gerar mudanças imprevisíveis.

O QUE É COMPLEXIDADE? Ainda não há resposta definitiva para essa pergunta. Pode-se dizer que um sistema é tão mais complexo quanto maior for à quantidade de informação necessária para descrevê-lo. Porém, essa é uma entre muitas definições. No entanto, sabe-se que a complexidade só emerge em sistemas com muitos constituintes. Por exemplo, no cérebro humano, com 100 bilhões de células nervosas. Porém, um gás, com bilhões de constituintes, é um sistema simples. Por quê? Basta estudar uma pequena parte dele para entender o todo, o que é impossível em sistemas complexos.

COMPLICADO É COMPLEXO? Não. Uma máquina sofisticada, com grande número de partes, é complicada, mas não complexa, pois terá comportamento previsível. De um avião, por exemplo, não vai emergir – ironicamente – nada semelhante ao sofisticado movimento que faz uma ave alçar vôo. Importante: a reunião de elementos complexos pode gerar um comportamento simples e previsível. Por exemplo, a Terra girando em torno do Sol.

O estudo de sistemas complexos cresceu muito nos últimos anos, não obstante ser o próprio conceito de complexidade definido muito vagamente e segundo diversas teorias alternativas. O termo “complexidade” vem do latim, complexus, que significa entrelaçado ou torcido junto. Isto pode ser interpretado da seguinte maneira: para se ter um sistema complexo é necessário (1) duas ou mais diferentes partes ou componentes e (2) estes componentes devem estar de algum modo interligados formando uma estrutura estável. Aqui se encontra a dualidade básica entre partes que são ao mesmo tempo distintas e interconectadas. Um sistema complexo não pode então ser analisado ou separado em um conjunto de elementos independentes sem ser destruído. Em conseqüência não é possível empregar métodos reducionistas para a sua interpretação ou entendimento. Se um determinado domínio é complexo ele será, por definição, resistente à análise.

A consciência da existência de fenômenos que não podem ser reduzidos às suas partes em separado conduziu ao holismo, que pode ser visto como uma corrente de pensamento oposta ao reducionismo. O holismo propõe a observação de um fenômeno complexo como um todo, ao invés de como uma coleção de partes. Esta visão, entretanto, também negligencia um importante aspecto das entidades complexas: o fato de que elas são compostas de partes distintas, mesmo que essas partes se encontrem em estreito relacionamento.

Considerar um fenômeno como um todo porém significa identificá-lo com uma unidade, isto é, fundamentalmente simples. Na construção de uma ciência da complexidade deve-se portanto buscar uma visão capaz de transcender a polarização entre holismo e reducionismo, permitindo a modelagem de sistemas que apresentam simultaneamente a característica da distinção (sendo portanto separáveis do todo em uma forma abstrata) e da conexão (sendo portanto indissociáveis do todo sem a perda de parte do significado original).

Um sistema complexo é, por definição, um sistema construído pelo observador, o que implica, em relação a um determinado objeto, a existência de vários regimes de verdade.

Um sistema complexo é constituído por uma multiplicidade de subsistemas, tendo cada um deles a sua lógica e a sua historia. Cada sistema tem uma variedade de informação dada pela diversidade dos seus elementos, estados, relações, sendo possível distinguir-se graus de sistematicidade de acordo com a complexidade e riqueza das conexões entre as partes.

É, portanto, uma propriedade do sujeito na apreensão dos fenômenos, que se deve: (I) a composição do sistema, ao numero e as características dos seus elementos e sobretudo das suas interações; (II) a incerteza e aos acasos próprios do meio envolvente; (III) a imprevisibilidade potencial de comportamentos; (IV) as relações ambíguas entre determinismo e acaso aparente, entre ordem e desordem.

De acordo com Stancey, os sistemas adaptativos complexos consistem num elevado numero de agentes inter-relacionados de modo não-linear, em que a ação de um agente pode provocar mais do que uma resposta por parte de outros agentes. Para alem disso, caracteriza-se pelo fato dos seus elementos identificarem regularidades na informação que ontem, condensando-a posteriormente sob a forma de modelos.

As propriedades abaixo podem estar presentes em sistemas complexos tão diversos quanto um ser vivo, um ecossistema, a economia de um país ou uma equipe de futebol:

• Partes que se relacionam entre si;
Ex: Jogadores de uma mesma equipe.

• Interação com o meio;
Ex: Interação com o campo, fatores abióticos e sistema contrario.

• Adaptação ao meio;
Ex: Adaptação ao campo de jogo e aos fatores abióticos.

• Tratamento da informação em vários níveis;
Ex: Os jogadores das equipes estão a todo o momento recebendo, tratando e usando a seu favor e da sua equipe essa informação.

• Ordem emergente (criação espontânea de ordem a partir de estados desordenados);
Ex: Da tentativa de ordem (defesa) e da tentativa de desordem (ataque) ee que o jogo de futebol se mantém organizado (em ordem).

• Propriedades coletivas emergentes (novos comportamentos causados pela interação entre as partes);
Ex: Da cooperação entre os jogadores a equipe apresentara uma identidade que não pertence a nenhum daqueles jogadores.

• Criticalidade auto-organizada (estado crítico, na fronteira entre a ordem e o caos, em que a mais leve perturbação pode causar uma reação em cadeia; por exemplo, um simples floco de neve desencadeando uma avalanche)
Ex: Pequenos acontecimentos em um jogo podem ocasionar em reações imprevisíveis.

• Estrutura fractal (formatos que não se tornam mais simples quando observados em escalas cada vez menores)
Ex: Jogo, equipes, jogadores. Não adianta decompor os fatores, pois a observação continuara complexa.

Adaptando a classificação dos sistemas preconizada por Beer e Lesoume, podemos considerar o jogo de futebol:
- Um macrosistema complexo, na medida em que os elementos que o constituem, pelas suas profusas inter-relacoes, o tornam altamente elaborado e portanto com elevado grau de inteligibilidade;
- Um macrosistema probalista de escolha múltipla, porque as suas unidades constituintes interagem de um modo não previsível e as respostas, nas ações de jogo, são condicionadas pela configuração de diferentes sequencias de codificações.

Os sistemas complexos possuem alguma características comuns:

* Complexidade vs. Simplicidade.
Apesar de ser um sistema globalmente complexo, é um sistema que apresenta simplicidade local. Todos os sistemas complexos adaptativos são extremamente complexos, enquanto os componentes de que são constituídos são de uma extrema simplicidade;


* Grande número de componentes que interagem entre si e influenciam uns aos outros.
Quando falamos de grande número estamos falando em ordens de grandeza superiores as dezenas de milhares de componentes, podendo chegar a ordem dos milhões, bilhões e trilhões de componentes;

* São imunes aos métodos científicos de análise disponíveis.
O método reducionista de análise não é utilizável para o estudo e previsão desses sistemas. Nesses sistemas, o todo é maior que a soma das partes (2 + 2 = 5, 5 + 5 = 12 e 12 + 12 = 27, etc). Isso é o que chamamos de sinergia;

* Sempre há aspectos aleatórios envolvidos, ou seja, não são de forma alguma sistemas determinísticos ou previsíveis; qualquer tentativa de fazer previsões, a longo prazo, não passam de mera adivinhação;

* Ampla diversidade de componentes que se inter-relacionam e que mantém similaridades dentro da diversidade;

* São capazes de evoluir, se adaptar e aprender de acordo com mudanças nas características de seu ambiente;

* Inexistência de uma coordenação global, absoluta, efetiva e duradoura. Embora vários mecanismos de coordenação mais fraca podem estar presentes;

Referências Bibliográficas:

Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.

dos Anjos, João – Sistemas Complexos: A fronteira entre a ordem e o caos. PROJETO DESAFIOS DA FÍSICA [Em linha]. [Consult. a 20.12.2009]. Disponível em http://mesonpi.cat.cbpf.br/desafios/folder.php?id=5.

Moro Palazzo, Luiz Antônio – Complexidade, Caos e Auto-Organização. Universidade Católica de Pelotas. [Em linha]. [Consult. a 20.12.2009]. Disponivel em http://ia.ucpel.tche.br/~lpalazzo/Aulas/SCA/CompCaosAutoOrg.pdf.

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