O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O jogo alem do jogo: O que pode fazer uma torcida?

A umas duas semanas a imprensa vem noticiando essa historia do jogo entre as duas maiores torcidas do brasil, flamengo e corinthians, e bla bla bla bla bla... Mas nada disso importa, o que ee realmente interessante ee a ideia de que a torcida (um sub-sistema do sistema jogo) ee capaz de alterar, de produzir ruidos, em outros sub-sistemas ou sistemas que pertencam ao sistema jogo. Ou de uma outra maneira, a torcida pode jogar o jogo junto com sua equipe a partir do momento que joga com as emocoes, vejamos alguns exemplos.

Para o confronto entre Flamengo e Corinthians, a torcida do Flamengo contratou 20 travestis para ficar atras do banco de reservas do Corinthians, fez uma bandeira balao com a foto do travesti que Ronaldo supostamente fez um programa, cantou musicas ofensivas tambem referentes ao suposto programa de Ronaldo com o travesti e ainda utilizou faixas que recorreram ao ja citado tema.

Para o jogo da volta, em Sao Paulo, a torcida do Corinthians promete usar 40 mil apitos durante o jogo, ou seja, 40 mil pessoas irao apitar enquanto o flamengo estiver com a bola.

Outro exemplo que me recordo, ee do ABC-RN durante a Serie C, ha alguns anos, quando a torcida foi no hotel dos jogadores adversarios e ameacou bater na equipe.

Enfim, o futebol brasileiro e mundial esta cheio de exemplos de casos em que a torcida tenta jogar com as emocoes da sua equipe e da equipe adversaria antes e depois dos jogos. A questao ee, isso realmente funciona ou faz algum sentido?

No treino contemplamos aos jogadores fatores como concentracao e o mental, que estao presentes e precisam estar adequados para o jogador atuar no seu maximo. Entretanto, penso que embora esses fatores facam parte constantemente dos treinos de bons treinadores, nao tem no treino 40 mil pessoas dizendo que voce ee um viado ou algo do tipo, existe o treinamento psicologico junto com o tecnico,tatico e o fisico, todavia, nao existe como contemplar fatos como uma torcida lhe humilhando durante todo um jogo quando voce esta sofrendo uma fadiga fisica e mental, simplesmente nao tem como se preparar um jogador para isso.

Ai voce pode dizer ai, mas se o jogador provocado for experiente vai lidar bem com essa situacao. Acredito que isso nao ee uma regra, quando sabemos de uma coisa nem sempre conseguimos a operacionalizar, o jogador pode saber que estao tentando o provocar e mesmo assim se deixar provocar.

EE uma coisa que nao vejo, hoje, muito perspectiva de preparacao para tal durante o treinamento. Obviamente que a motivacao, concentracao, inteligencias emocionais, experiencia, o proprio treinamento e o desenrolar do jogo (como estar ganhando) podem facilitar para o jogador lidar com essas emocoes, mas mesmo assim penso que ee muito complicado.

Para ilustrar melhor o que quero dizer vou deixar uma postagem do amigo Breiller, do blog Rola Blog, que esta nos favoritos.

Música para as orelhas de Chicão

A conquista do penta (ou seria tetra?) pelo Flamengo, em 1992, pode ser atribuída ao pique do “vovô” Júnior ou à vocação de eterno freguês do rival.

Mas, para o ex-goleiro Gilmar Rinaldi, titular do Flamengo naquela final contra o Botafogo, outros dois personagens contribuíram decisivamente para o caneco rubro-negro: a torcida e Chicão, o matador.

Num bate-papo despretensioso, Gilmar revelou ao RB que, após a partida, conversou com o atacante Chicão, artilheiro do Botafogo no Brasileiro de 92, com 12 gols.

Chicão vinha se destacando na campanha do Glorioso, mas se machucou na reta final e só voltou ao time no último jogo, quando o Botafogo precisava reverter uma vantagem de três gols imposta pelo Flamengo na primeira partida da decisão.

Vindo da Ponte Preta, Chicão chegou ao Botafogo em 91. Suas principais virtudes eram a impulsão e a presença de área. Oportunista, não perdia um gol de cabeça.

Era querido pelos botafoguenses, que depositavam nele a maior esperança de gols para bater o Flamengo naquela decisão. Só não contavam com uma surpresinha da torcida rubro-negra, como conta Gilmar.

“Entramos em campo e nossa torcida começou a cantar uma música debochando do Chicão. Cantaram o jogo inteiro e ele ficou maluco com aquilo, não conseguiu se concentrar. A torcida do Flamengo deu uma mãozinha e tanto pra gente”.

Chicão não marcou. Conseguiu, no máximo, acertar o travessão numa cabeçada. Apagado no jogo, acabou substituído. Confessou mais tarde a Gilmar que a torcida do Flamengo o havia deixado tonto.

Na música, os torcedores tiravam sarro das orelhas e até mesmo do “imponente” casco do centroavante, que naquele dia não guardou nenhuma bola nas redes.

A final terminou em 2 a 2. O Flamengo saiu campeão. E o futebol, descredenciando céticos e pragmáticos, provou que torcida ganha jogo. Ou, na pior das hipóteses, anula o cabeça do time adversário.

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