"As patologias que nos desportistas privilegiam as regioes pubica e inguinal sao ainda motivo de especulacao e, assim de controversia. Para isso contribui a complexidade anatomica da regiao inguinal do Homem, evolutivamente mal preparada para suportar esforcos mecanicos determinados pela adocao do bipedismo e significativamente ampliados pela pratica desportiva" (J. L. Massada, 2003, pp. 231).
Note-se contudo, que no "Homo Sapiens", ee ao nivel das formacoes neurovasculares da parede abdominal que encontramos as marcas evolutivas mais evidentes da quadrumania do primata ancestral em direcao ao bipedismo do Homo Sapiens" (J. Leandro Massada, 2001, pp. 143). Daqui se depreende, que das regioes anatomicas em que se verificam alteracoes mais significativas se destacam, as observadas ao nivel da pelvis, cujas alteracoes apesar de determinantes para o sucesso da marcha bipede, implicaram custos secundarios consideraveis (Arsuaga, 2007). Para este autor, o estreitamento das ancas observado como consequencia das alteracoes pelvicas, aproximando-as do centro de gravidade, rentabiliza energeticamente a marcha bipede. Dunbar (2006, pp. 31) reportando-se as alteracoes pelvicas observadas na nossa especie refere, que a pelvis dos humanos modernos, apresenta uma forma muito peculiar, em forma de taca, tendo sido concebida para proporcionar simultaneamente, uma plataforma estavel sobre a qual equilibrar o tronco e, um suporte em forma de "balde para as entranhas, que de outro modo cairiam incontrolavelmente para a frente e ficariam pendentes sobre os joelhos", acrescentando ainda, que estas sao, caracteristicas intimamente associadas a uma marcha bipede. A regiao pelvica, na especie humana, observa os maiores indices pelvicos entre os primatas, e apresenta um conjunto de particularidades muito distintas de outras especies, podendo ser considerada a estrutura que mostra maiores diferencas entre o homem e os simiideos e os antropoides (J. Leandro Massada, 2001).
Consideramos, que o conjunto de alteracoes observadas ao nivel da pelvis, se assume de especial relevancia quando ee abordada a problematica do treino de futebol, como sucede no presente trabalho. "No Homem a extensao completa da articulacao coxofemural, determinada pela adaptacao do bipedismo, fragilizou evolutivamente a regiao inguinal" (J. L. Massada, 2003, pp. 222).
O que pretendemos evidenciar com esta abordagem ee, que a identificacao da funcionalidade das cadeias musculares centrais, e dos segmentos anatomicos mais solicitados no futebol, como sao o caso das estruturas existentes na regiao pelvica ee, uma condicao indispensavel para um correto entendimento e operacionalizacao do binomio EsforcoRecuperacao. O treino de futebol, implica da parte dos treinadores um conhecimento relativamente aprofundado das bases fisiologicas e da anatomia funcional dos grupos musculares mais solicitados pela especificidade desta atividade (J. Soares, 2005), e de modo particular, das Anatomias, Biomecanicas (Luisa Estriga) e Fisiologias implicadas nas Especificidades dos diferentes jogares.
Face a esta evidencia, devemos ter em consideracao o conjunto de condicionalismos observados ao nivel da regiao abdominal e pelvica, resultantes da adocao do bipedismo. De acordo com J. Leandro Massada (2001) a incidencia de tendinopatias ao nivel da anca, nos desportistas ee, um dos custos que o homem paga pela adocao do bipedismo.
Na generalidade das modalidades desportivas, a maior incidencia e concentracao de esforcos mecanicos, depende do tipo de gestualidade, requisitada por essa atividade (Leandro Massada). Parecendo existir em funcao dessas gestualidades, diferentes especificidades no tipo de padrao lesional, associada a especificidade de uma determinada modalidade (Luisa Estriga).
Como salientamos, as estruturas anatomicas que constituem a regiao da bacia encontram-se sobrecondicionadas Antropologicamente.
Condicionalismos, que se tornam mais evidentes com a pratica desportiva, e de modo particular com a pratica de futebol, pela propensao a ocorrencia de movimentos e deslocamentos antifisiologicos.
"As patologias que nos desportistas privilegiam as regioes pubica e inguinal sao ainda motivo de especulacao e, assim de controversia. Para isso contribui a complexidade anatomica da regiao inguinal do Homem, evolutivamente mal preparada para suportar esforcos mecanicos determinados pela adocao do bipedismo e significativamente ampliados pela pratica desportiva" (J. L. Massada, 2003, pp. 231). Por este motivo, a regiao da bacia, deve ser uma preocupacao constante, uma vez que a sua contemplacao, de forma adequada ee, um elemento chave para a nao ocorrencia de lesoes de sobrecarga (V. Frade, 2006). A doenca dos adutores, por exemplo, ee considerada por L. Massada (2006) como uma patologia especifica dos futebolistas, acrescentando que esta, por vezes, provoca incapacidades funcionais muito relevantes e prolongadas. A pubalgia ee tambem, uma lesao muito frequente entre os futebolistas, sendo em Portugal ao nivel do futebol a lesao de overuse mais frequente (J. L. Massada, 2003).
Devemos ter em consideracao que este tipo de lesoes, resulta do nao reconhecimento das exigencias funcionais que a sobre-solicitacao que os diferentes jogares implica, e do consequente desrespeito pelo binomio EsforcoRecuperacao, o que ee suportado por J. L. Massada (2003, pp. 146) que sugere que a pubalgia, resultante da amplificacao do desequilibrio muscular e aponevrotico filogenetico da parede antero-lateral e inferior do abdomen, se encontra "condicionada por uma alteracao do equilibrio entre os musculos abdominais e as massas musculares dos membros inferiores que se inserem nos ramos ilio-isquiopubicos resultantes de uma diferente resposta adaptativa em relacao as cargas mecanicas que lhes sao impostas durante a pratica desportiva, fundamentalmente nos desportos que obrigam ao deslocamento lateral intermitente, como ee o caso do futebol."
"...a area de maior concentracao de forcas esta relacionada com o gesto desportivo, no caso do futebol o remate, o salto, o deslocamento lateral, os movimentos de torcao que provocam hipersolicitacao da coluna dorso lombar e numa das zonas mais hipersolicitadas onde aqueles apresentam alteracoes degenerativas mais marcadas, a zona da pelvis" (Leandro Massada).
Motivo pelo qual, se observa na generalidade dos desportistas a existencia de musculos adutores ricos e de musculos abdominais pobres (J. L. Massada, 2003).
Relativamente ao tratamento deste tipo de patologias, parece permanecer ainda um pouco desconhecido, e envolto em alguma controversia, devido a complexidade anatomica da regiao inguinal, mas tambem, pelo fato da investigacao medica neste dominio se ter cingido durante muito tempo ao continente europeu, visto que apenas se tornou motivo de investigacao recentemente nos Estados Unidos da America, aquando do aumento de interesse verificado em torno do futebol, naquele pais (L. Massada, 2006). Nao obstante a existencia de alguma controversia, e desconhecimento relativamente ao tratamento deste tipo de lesoes, alguns autores (V. Frade, 2006; L. Massada, 2006) sugerem a diminuicao ou paragem da pratica de atividade desportiva, e ainda a tonificacao da regiao abdominal e alongamento muscular.
O alongamento da musculatura abdominal profundal, assume-se como uma pratica muito importante na diminuicao do risco de incidencia de lesoes, ainda que muitas vezes, tal seja descurado pelos jogadores e treinadores (Bangsbo, 2002). Importa ainda advertir, que sendo os musculos abdominais dos mais solicitados nos futebolistas, o fortalecimento dos mesmos devera fazer-se de forma ajustada, devendo como realca Luisa Estriga, esses desequilibrios serem corrigidos de forma contextualizada, isto ee, atendendo a Especificidade de um jogar, fazendo-o atraves da operacionalizacao desse mesmo jogar. Segundo J. Soares (2005), grande parte dos exercicios realizados pelos futebolistas, nao se encontra suficientemente ajustado a musculatura abdominal, solicitando simultaneamente, outros musculos diminuindo deste modo, a solicitacao dos musculos abdominais
Consideramos, que apesar deste aspecto ter alguma relevancia, face ao que expusemos relativamente as alteracoes registadas ao nivel da regiao abdominal e pelvica, aquilo que mais importa realcar ee, que a solicitacao ou estimulacao parasita de alguns musculos como, psoas-iliaco, recto anterior, tensor da fascia lata, assim como os adutores, musculos ricos, que se encontram hipersolicitados no futebol, representara uma sobrecarga adicional desnecessaria, que contribuira, para um cada vez maior desequilibrio, entre musculos pobres e musculos ricos.
Importa por isso, que os treinadores, desde a operacionalizacao de um processo desde idades precoces, sejam criteriosos na escolha de exercicios abdominais, e tambem, que sejam capazes de ter um controle qualitativo do modo, como os jogadores os realizam, com o intuito de evitar a solicitacao parasita de alguns musculos. O angulo de realizacao dos exercicios abdominais, assume-se como um aspecto determinante, uma vez que, se por exemplo as pernas se encontrarem em extensao, a probabilidade de solicitar os musculos flexores da anca encontra-se aumentada, o mesmo nao sucedendo se, as pernas encontrando-se elevadas estiverem apoiadas numa superficie com os pes a efetuarem pressao (J. Soares, 2005).
Uma vez que a filogenese da especie humana, e as bases anatomicas da Hominizacao, se constituiram, a determinados niveis, como uma adversidade acrescida a pratica do futebol, um Fenomeno AntropoSocialTotal, torna-se imprescindivel que o treinador reconheca os constrangimentos Antropologicos que o jogo implica. O futebol, joga-se com o corpo, comporta inequivocamente uma dimensao Biologica (Paulo Cunha e Silva), e esta tem de ser respeitada, e isso so ee possivel se conseguirmos identificar, com clareza, quais as cadeias musculares centrais, os segmentos anatomicos e possiveis constrangimentos, que tem maior predominancia no jogo, e de modo particular, num determinado jogar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário