O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Liberdade na organizacao da equipe

Na organizacao da equipe, as interacoes entre os jogadores sao aquelas que determinam a dinamica e o fluxo da dinamica no jogo coletivo, pelo que os posicionamentos e as funcoes nascem precisamente disso.

Partindo do nosso entendimento de sistema dinamico complexo, Davis e Araujo falam-nos em quatro aspectos fundamentais:

- O sistema de movimento tem inumeros graus de liberdade, ou seja, sao infindaveis as configuracoes potenciais do sistema no direcionamento para um determinado objetivo;

- Qualquer que seja o sistema dinamico que estejamos a falar (o jogador, a equipe ou o modelo de jogo interpretado pelos jogadores), este possui imensos niveis de organizacao, cujas propriedades emergentes sao modificadas pela interacao do micro para o macro;

- Os graus de liberdade do sistema motor tendem para infinito, o que determina uma nao-linearidade do comportamento que emerge do sistema;

- A capacidade de auto-organizacao de um sistema dinamico ee caracteristica imprescindivel, ja que este ee capaz de estabelecer dferentes tipos de relacoes, como estaveis e instaveis.

Decorrente do esclarecimento destes autores, parece-nos que a interacao dos elementos de uma equipe de futebol faz-se segundo estes pressupostos, caminhando para um crescente estado de desordem a partir das relacoes entre os jogadores. No entanto, os principios de jogo sao o constrangimento que permite a organizacao pretendida, ja que a interacao (que se pretende positiva e benefica) determina a organizacao, e esta leva a adequacao da resposta.

Atentemos as palavras de Davids e Araujo: "parece que os sistemas dinamicos de movimento sao capazes de explorar os constrangimentos que os rodeiam de forma a permitir que emirjam padroes funcionais de comportamento em contextos especificos. Padroes de coordenacao macroscopicos ocorrem entre o grande numero de graus de liberdade microscopicos, ou componentes do sistema. Os sistemas dinamico tem a tendencia para funcionar em padroes de organizacao estaveis, devido ao processo de auto-organizacao".

Assim sendo, a capacidade de auto-organizacao ee uma caracteristica fundamental dos sistemas dinamicos, permitindo que se ajuste os varios niveis de organizacao do sistema ao contexto especifico, ou seja, a verdadeira especificidade do modelo de jogo e da propria equipe. Daqui, as interacoes entre os elementos de uma mesma equipe predispoem-na para um determinado tipo de organizacao, crescentemente uma organizacao organizada, permitindo que o sistema se estabilize, permitindo que todos entendem de acordo com os ditos padroes de coordenacao macroscopicos, como o sao os principios de jogo que coordenam a equipe.

Desta forma, Frade fala-nos que a verdadeira identificacao dos sistemas vivos nao ee a auto-organizacao, mas sim a criatividade e capacidade de adaptacao e superacao sobre o meio em que o individuo e a equipe sao capazes de atuar sem perder a sua estabilidade, o seu equilibrio, a sua ordem ou organizacao.

No entanto, Davis e Araujo parecem-nos dizer que existe um longo caminho ate se chegar ate este estado, ja que depois de um padrao de comportamento estar estabelecido dentro de uma organizacao, este sera posto a prova na relacao com as variacoes do contexto, o que alargara o espectro de graus de liberdade e trara um significado de utilidade especifica para tal no meio importante, pelo que os desportistas que adaptam facilmente os seus padroes de coordenacao as multiplas fontes de informacao disponiveis, emcontextos em mudanca, estao num nivel mais avancado de aprendizagem, no qual podem variar o padrao de coordenacao basico a medida que as circunstancias mudam. Desta forma, a exploracao de novos caminhos nao previstos, que poderemos chamar de desordem aceite pela equipe, desordem capaz de ser manipulada pela equipe, so ee capaz de existir quando cada jogador tiver integrado e for capaz de manipular esses conhecimentos, superando as acoes previstas por todos, seguindo atuar de forma criativa.

Os tipos de ligacoes estaveis e instaveis informarao o quanto o sistema se encontra equilibrado, mas tambem o quanto este se pode transformar e reconstruir. A intensidade e comunicacao que caracteriza as ligacoes da equipe enquanto sistema trara relevancia superior para determinados conteudos em determinados momentos, dando informacoes de base que fara decidir como atuar, as diversas referencias sobre as quais se devera basear para poder tomar a acao mais correta. No entanto, estas ligacoes poderao ser mais vinculativas do que outras, ou seja, poderao determinar mais acao, obrigando a atuar num espectro de opcoes mais reduzido, e, por outro lado, podera dar espaco para que o jogador decida, dentro das diversas referencias que o determinam opcoes, em conformidade com o projeto da equipe, sendo que o leque de escolhas podera ser mais alargado.

Mais uma vez, o que caracteriza a equipe sao as suas ligacoes, as suas relacoes, e ao nivel da complexidade do jogo e do modelo de jogo, os principios de jogo vinculativos dos elementos rumo ao objetivo, como seja a sua superiorizacao. Cabera ao treinador perceber as ligacoes entre os elementos, a sua organizacao e caracterizacao final enquanto equipe, como meio de definir os principios de jogo, as relacoes entre os jogadores, que no final ee uma relacao apenas potencial, ligacao nao determinada.

Como Stacey advoga, um sistema funciona na orla do caos, e so nesta fronteira se ve o novo e o belo, o criativo, pelo que sera do treinador a opcao de condicionar e direcionar aquilo que se define como a capacidade de criacao do jogador.

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