O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O treino enquanto processo de "gerir" e "gerar" comportamentos

Os verdadeiros problemas do treino de futebol, são os que se relacionam com o desenvolvimento da capacidade especifica de treinar e jogar, de acordo com uma idéia! Garganta (1997)

Segundo Rodriguez, o treino é um processo psicopedagogico que visa desenvolver as capacidades da equipe e dos jogadores no quatro especifico das situações competitivas, através da pratica sistemática e planificada do exercício, orientada por princípios e regras devidamente fundamentadas no conhecimento cientifico.

Na opinião de Vingada é através do treino que as equipes e os jogadores criam a sua própria identidade e nenhum jogador será completamente eficaz se não aprender os fundamentos tatico-tecnicos inerentes a modalidade.

Partindo da idéia de que o processo ensino/treino se deve pautar pela eficácia, isto e, pela capacidade de produzir os efeitos pretendidos, torna-se imprescindível a existência e referencias que, para alem de orientarem a definição de objetivos, possibilitem a seleção dos meios e métodos mais adequados para os alcançar.

Todavia, os meios e os métodos empregues para chegar a essa forma de jogar dependem da concepção metodológica pela qual se norteiam os responsáveis pela condução do processo de treino - o treinador/equipe técnica.

Nesta medida, o processo de ensino/treino do futebol apenas poderá ser coerente e eficaz se referenciado a um quadro de idéias e princípios (modelos), que expressem os aspectos a que se atribui maior importância e que orientem a intervenção de quem ensina (os treinadores) e a ação de quem aprende (os jogadores).

Portanto, a modelação do treino deve tentar reproduzir, no decurso de cada sessão de treino, o envolvimento que o jogador e a equipe encontram na competição. Este método consiste sobretudo em integrar no treino um conjunto de tensões (psicológicas, táticas etc.) afim de reproduzir o mais fielmente possível as características ou as condições de jogo a que o jogador e a equipe serão confrontados durante a competição.

A generalidade dos autores analisados considera importante que os jogadores sejam confrontados com situações o mais próximas possível da realidade do jogo. Sustentam que é conveniente colocar os jogadores em situações/exercícios que solicitem a resolução de problemas tatico-tecnicos semelhantes aos que o jogo coloca, para que as ações executadas se aproximem cada vez mais do padrão a desenvolver.

Neste contexto, o modelo de jogo deve funcionar como um mapa para o treino especifico das equipes, de modo a garantir a rentabilizacao do processo de inoculação nos jogadores/equipe de traços comportamentais que induzam a forma de jogar pretendida.

Sobre o assunto, Frade salienta que o processo de treina passa pela criação de condições que permitam ou possibilitem atingir aquilo que se pretende; e o que se pretende é criar condições de jogar, pelo que desta forma o conceito de treinar esta absolutamente ligado aquilo que se aspira, e o que se aspira é adquirir a capacidade de jogar bem futebol.

Este entendimento do jogar pressupõe a clarificação de uma concepção por parte de quem tem a responsabilidade máxima de conduzir a equipe - o treinador. Esta concepção de jogo, e conseqüentemente de treino, pressupõe um encadeamento lógico da evolução de todo o processo em que o conceito de especificidade terá que estar presente

O treinador devera ter bem claro aquilo que pretende para a sua equipe, a forma como ele entende o jogo, aquilo que ele quer ver adquirido pelos seus jogadores para mais facilmente poder controlar os fatores que influenciam a prestação da sua equipe durante a competição. Esta informação só poderá ser útil se for devidamente planeada, estruturada e trabalhada durante o processo de treino.

Na mesma linha de pensamento, Guilherme Oliveira salienta que o modelo de jogo adotado, os momentos do jogo e a especificidade são os pressupostos básicos da operacionalização do processo de treino.

Para promover esta operacionalização, de forma consistente e coerente, Carvalhal e Guilherme Oliveira referem como principal via os exercícios.

A construção de um qualquer programa de treino só pode manifestar a sua essencialidade e objetividade quando corretamente suportadas numa unidade (célula) lógica de programação e de estruturação, isto e, o exercício de treino. É com esta entidade nas suas diferentes facetas e pela sua acumulação (resultante dos seus efeitos) ao longo de um certo período de tempo, que se pode alterar constante, consistente e significativamente as possibilidades de êxito do jogador ou da equipe a curto, médio ou a longo prazo.

Neste contexto, vários treinadores/autores defendem que se deve treinar em especificidade.

Sobre o assunto, Garganta sustenta que os exercícios de treino devem induzir adaptações especificas que viabilizem uma maior eficácia de processos na competição. O exercício de treino de caráter especifico visa, fundamentalmente, a potenciação de um maior efeito de transferência do processo de treino na direção da competição, tendo como elemento central o modelo de jogo adotado pelo treinador.

Também, Araujo refere que "... cada exercício utilizado deve reproduzir fielmente a necessidade expressa de, parcial ou integralmente, refletir o sistema de relações individuais e coletivas das modalidades respectivas."

Percebe-se, desta forma, que é ao treinador que compete planear tarefas (exercícios de treino) coerentes com a realidade do jogo, de modo a desenvolver as condições necessárias para operacionalizar uma forma de jogar. Como tal, a definição do conteúdo, das exigências e das características especificas da competição, contribui para perfilar a especificidade da disciplina desportiva a que respeita e orienta o refinamento do processo de treino no sentido de potenciar o desenvolvimento do comportamento agonistico dos jogadores.

A especificidade é o referencial que vai coordenar todas as escolhas de uma serie de comportamentos desejáveis, ofensivos e defensivos.

Para Tschiene, treinar significa influenciar o comportamento de jogo dos jogadores, fazê-los jogar segundo uma planificação estabelecida, previamente acordada.

Deste modo, o mapeamento do jogo e a construção dos exercícios para jogar deverão passar pela configuração de modelos explicativos e interpretativos que disponibilizem a representação dos respectivos conteúdos e lógica, a partir das dimensões percebidas como essenciais.

Segundo Ferreira e Queiroz, a identificação, definição e caracterização das fases/momentos, princípios e fatores de competição irão conceptualizar um modelo de jogo e, por sua vez, um modelo de treino, no qual devera conter meios, métodos e formas que proporcionem a aprendizagem e aperfeiçoamento de comportamentos tecnico-taticos sustentados no desenvolvimento das qualidades especificas, num quadro próximo das situações reais de competição.

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