O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Modelando o Complexo

Modelar sistemas complexos não é tarefa das mais fáceis. E o grau de complexidade se eleva bastante quando se trata da modelagem de ecossistemas – como mostra um livro pioneiro nessa área –, pois é preciso considerar interações entre seres vivos (animais, plantas, microrganismos etc.) e meio ambiente (chuvas, solos, nutrientes etc.). Nos sistemas complexos, muitos comportamentos são manifestações globais e não podem ser estudados ou entendidos através do reducionismo. Assim, é preciso olhar para os constituintes no contexto do todo.

De acordo com Stancey, os sistemas adaptativos complexos consistem num elevado numero de agentes inter-relacionados de modo não-linear, em que a ação de um agente pode provocar mais do que uma resposta por parte de outros agentes. Para alem disso, caracterizam-se pelo fato dos seus elementos identificarem regularidades na informação que obtêm, condensando-a posteriormente sob a forma de modelos.

Vários autores recorreram à expressão abordagem sistêmica para designarem as perspectivas e metodologias empregues na descrição e estudo dos sistemas, no sentido de tornar a ação mais eficaz. A abordagem sistêmica consiste portanto numa estratégia de modelação da realidade que compoita a utilização de certos instrumentos conceptuais bem definidos, conduzindo a modelação sistêmica.

A modelação sistêmica assenta em quatro categorias fundamentais: interação, globalidade, complexidade e organização. Neste sentido parece revelar-se profícua para defrontar fenômenos complexos como o jogo de futebol, porquanto estamos em presença de um processo: (1) Interativo, porque os jogadores que o constituem atuam numa relação de reciprocidade; (2) Global ou total, porque o valor das equipes pode ser maior ou menor do que a soma dos valores individuais dos jogadores que a constituem; (3) Complexo (porque existe uma profusão de relações entre os elementos em jogo); (4) Organizado, porque a sua estrutura e funcionalidade se configuram a partir das relações de cooperação e de oposição, estabelecidas no respeito por princípios e regras e em função de finalidades e objetivos.

O conhecimento, a identificação e a definição do jogo de futebol, passa pela utilização de modelos capazes de o explicar e interpretar. Trata-se de representar o conteúdo e a lógica do jogo a partir da integração das dimensões percebidas como essenciais do fenômeno.

Ora, como refere Le Moigne, se pretende construir a inteligibilidade de um sistema complexo, devemos modelá-lo. Modelar um sistema complexo é elaborar e conceber modelos, i.e,, construções simbólicas, com a ajuda das quais podemos definir projetos de ação, avaliar os seus processos e a sua eficácia. Mas modelá-lo num contexto que o permita adequar à especificidade do jogo de futebol e nesse sentido num contexto tático, de acordo com Garganta.

Para Grehaigne, não é possível compreender e explicar a complexidade dos JDC, enquanto sistema de transformação, senão apeando a modelos que integrem as noções de ordem, desordem, interação e organização.

O conceito de sistema, porque a complexidade, o paradoxal, o dia lógico, e por isso mesmo o incerto, afigura-se nuclear porque permite focalizar a analise nos aspectos da organização do jogo, consubstanciados num conjunto de regras de gestão e ação que derivam de um conceito ou idéia central, vulgarmente designada por modelo ou concepção de jogo.

Para Perl a modelação assume um papel extremamente importante para decifrar o presente de uma determinada situação e poder assim, dessa forma, tentar prever o futuro dessa mesma situação. No fundo, o que este autor quer dizer é que a modelação assume um papel de intervenção ativa para o regulamento dos comportamentos, por exemplo, de uma equipe, de forma a estar, no presente estar bem, e no futuro poder ainda estar melhor.

Corroboramos que se uma equipe ee considerada um sistema, a abordagem sistêmica aparenta ser a melhor solução para a modelar. Isto porque, desta forma se considerara sempre como um todo, mantendo as suas características funcionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GARGANTA, J; GREHAIGNE, J.F. Abordagem sistemica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Revista Movimento, Porto Alegre, v. 6, n. 10, p. 40-50, 1999.

Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.

dos Anjos, João – Sistemas Complexos: A fronteira entre a ordem e o caos. PROJETO DESAFIOS DA FÍSICA [Em linha]. [Consult. a 20.12.2009]. Disponível em http://mesonpi.cat.cbpf.br/desafios/folder.php?id=5.

RIBEIRO, P. Do Modelo e Concepção de jogo à Análise da Performance no Futebol: O Treino enquanto indutor da Operacionalização de um modo de Jogar Específico. Estudo de caso na equipa sub-19 do Futebol Clube do Porto . 2008. 209 f. Monografia (Licenciatura em Desporto) - Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.

Nenhum comentário: