O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Para os jogadores... Concentração:

Para iniciar este ponto, interessa antes de mais procurar um entendimento daquilo que é a concentração. Silvério e Srebro defendem que a definição de concentração comporta duas dimensões: 1) a capacidade de prestar atenção a informação pertinente e ignorar a irrelevantes e os estimulos perturbadores e 2) a capacidade de manter essa atenção durante um longo periodo de tempo. Reportando-nos especificamente ao futebol, Freitas considera que as informações pertinentes para um jogador serão as suas funções em campo, a posição da bola e a posição e os movimentos dos colegas e adversários. As informações irrelevantes/perturbadoras serão o ruído da multidão, as coisas que lhe dizem, os fotógrafos e individuos da teelevisão e os pensamentos negativos e de insegurança. A concentração tem por isso a ver com os mecanismos de atenção seletiva, que pode ser interna (para estimulos internos) ou externa (para estimulos do meio). É aquilo a que fizemos referência atrás como manter o foco do cérebro num determinado aspecto.

A imensidão de estimulos a que um jogador está sujeito no decorrer de um exercicio de treino ou num jogo (neste último é necessariamente maior) propicia que a eficiência das ações esteja altamente dependente da capacidade de concentração. Como vimos anteriormente, quando somos confrontados com uma situação nova o córtex pré-frontal é um dos principais responsáveis pela focalização da atenção, mas a medida que a aprendizagem ocorre e vamos estando identificados com essas situações a implicação dessa região cerebral decresce e por mecanismos de memória implicita a resposta é dada de forma mais rápida e fluida. Não restam por isso dúvidas da necessidade de o jogador estar concentrado no treino para que possa assimilar e consolidar os comportamentos inerentes as suas funções em campo.

Mas será que todos os exercicios no futebol colocam exigências de concentração? Certamente que não. Assim como a nossa capacidade de concentração não é limitada, ela tem uma variabilidade circunstancial.

A concentração surge então, segundo Frade, do agir em função de um propósito, de um futebol, é isso que faz crescer o investimento emocional e a concentração - é isso que expressa a verdadeira especificidade. Jensen sublinha depois o papel decisivo das emoções na concentração quando refere que a emoção ajuda a razão a concentrar a mente e a estabelecer prioridades. Goleman acrescenta que as escolhas feitas em concordância com este leme interior [valores] são revitalizantes. Não apenas nos parecem acertadas como maximizam a concentração e a energia para as prosseguir. Ou seja, como resultado de um atuação concentrada, libertam-se quimicos como a adrenalina, a norepinefrina (que nos dão uma sensação de prazer) e gera-se mais disponibilidade de concentração.

A esta perspectiva Mourinho acrescenta que uma das coisas que faz com que o treino seja mais intenso, (...) é a concentração exigida, associada portanto a um desgaste em termos emocionais. Ora, reconhecendo a importância desse desgaste, resultante do jogar concentrado, impõe-se a necessidade de um conceito de recuperação diferente do tradicional, ou seja, daquele que se reporta apenas a dimensão fisiológica dos jogadores.

Desta forma, importa que durante a organização e gestão do processo de treino, na distribuição semanal dos conteúdos, haja um respeito pelas consequências que dimanam do fato de os jogadores terem de estar concentrados. Como refere Faria quando falamos em recuperação, não podemos falar apenas sob o ponto de vista fisico. Há uma recuperação que tem que ser mental, ao nivel dos aspectos da concentração, que é fundamental para que os jogadores consigam estar no jogo os 90 minutos.

Esses níveis mentais estão relacionados com a capacidade de nos automotivarmos. Queiróz parece concordar também com esta posição ao dizer que quando temos de enfrentar um jogo sem que tenhamos conseguido uma regeneração completa, do ponto de vista fisiológico e emocional, ressentimo-nos (...) com menos concentração, menos entusiasmo, menos alegria, menos disponibilidade e menos eficiência. A essa fadiga proveniente do sistema nervoso central e que como vimos influencia a disponibilidade emocional e a concentração, Frade dá a designação de fadiga tática por enquanto ela se traduz numa incapacidade de os jogadores estarem concentrados nas ações que caracterizam a forma de jogar da sua equipe.

Aliás, para além dos treinadores já citados, também Jesualdo Ferreira, Manuel Machado, Agostinho Guilherme e Carlos Carvalhal, entre outros, mencionaram num estudo realizados por Freitas a necessidade de atender permanentemente a uma recuperação mental dos seus jogadores.

Com o crescente aumento da densidade do período competitivo esta recuperação torna-se cada vez mais complicada de conseguir. Daí que Mourinho afirme que os jogadores têm de estar mentalmente preparados para treinar dia-a-dia, ou seja, recuperam de domingo para domingo, de dia para dia, de exercicio para exercicio, de repetição para repetição.

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