O animal satisfeito dorme (Guimarães Rosa)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As três etapas do modelo de jogo

Partindo da idéia de que o processo de ensino/aprendizagem deve pautar-se pela eficácia, isto é, pela capacidade de produzir os efeitos pretendidos, torna-se imprescindível a existência de referencias que, para alem de possibilitarem a definição dos objetivos, orientem a seleção dos meios e métodos mais adequados para os alcançar.

Nesta medida, o processo de ensino do futebol deve reportar-se a um conjunto de princípios ou idéia (modelos), que expressam os aspectos a que se atribui maior importância e que se pretende ver cumpridos.

Na medida em que as ações de jogo ocorrem em contextos de elevada variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, aos jogadores é requerida uma permanente atitude estratégico-tatica. Na construção de tal atitude, a seleção do numero e qualidade das ações depende obviamente do conhecimento que o jogador tem do jogo. Quer isto dizer que a forma de atuação de um jogador esta fortemente condicionada pelos seus modelos de explicação, ou seja, pelo modo como ele concebe e percebe o jogo. São esses modelos que orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora.

Iso significa que a forma de um jogador entender o jogo e de nele se exprimir, depende de um fundo, ou de um metanivel, que constitui aquilo que podemos designar por modelo de jogo. As relações que o jogador estabelece entre este modelo e as situações que ocorrem no jogo orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora.

Deste modo, a dimensão estrategico-tatica emerge como território que confere ou retira sentido as tarefas dos jogadores no decurso do jogo.


De entre os referenciais a ter em conta, os princípios de jogo mais evoluído e as características reveladas pelos praticantes assumem uma dimensão particurlamente importante. Não se trata, obviamente, de copiar os modelos da pratica de alto nível, mas tão só estabelecer a imprescindível ligação entre diferenciados níveis de jogo, salvaguardando as devidas proporções. Impoe-se, assim, que se identifiquem os problemas mais pertinentes do jogo elementar e os indicados de qualidade do jogo elevado de alto nível, deles devendo decorrer a sistematização dos conteúdos, a definição dos objetivos e a seleção dos exercícios para ensinar e treinar esta modalidade desportiva.

Dos momentos iniciais da pratica do futebol ate aos mais elevados níveis, o jogo vai apresentando sucessivas configurações de referencia, que uma vez racionalizadas permitem construir os designados modelos de jogo. Neste sentido, a modelação do jogo permite fazer emergir problemas, determinar os objetivos de aprendizagem e constatar os progressos dos praticantes. A partir das perspectivas de Garganta e Grehaigne, de acordo com os comportamentos revelados pelos jogadores e pelas equipes, apresentamos, em síntese, três modelos de jogo, correspondentes ao nível de evolução dos indicadores: estruturação do espaço, comunicação na ação e relação com a bola:

Modelo Rudimentar:

Jogo estatico, não orientado, jogadores centrados sobre a bola, excesso de verbalização.

- Os jogadores perseguem indiscriminadamente a bola, aglutinando-se em torna dela.
- Dificuldades na relação com a bola (controle, proteção, condução etc).
- Utilização sistêmica da visão para olhar a bola, indisponibilidade para ler o jogo.
- Imobilismo dos jogadores sem bola e abuso da comunicação verbal.
- A circulação da bola não ee voluntaria.
- Sucessão de ações isoladas e explosivas sobre a bola.

Modelo Intermédio:

Jogo estático, orientado, jogadores centrados sobre os passes.

- Ocupação mais racional do espaço de jogo, embora pouco eficaz, porque estática.
- Existência de blocos constituídos por jogadores estáticos que trocam a bola entre si.
- Circulação da bola a periferia.
- A visão (central e periférica) vai sendo progressivamente libertada para ler o jogo.
- Todo o encadeamento de ações necessita de uma paragem (bola, jogador).
- Pouca incisão/penetrancia ofensiva.

Modelo Avançado:

Jogo dinâmico, orientado, jogadores centrados sobre a finalização (gol).

- Jogadores organizados em função de finalidades diferenciadas.
- Incisão/penetrancia ofensiva.
- O portador da bola joga de cabeça levantada para ler o jogo.
- Alternância do jogo em largura com o jogo em profundidade.
- As ações são organizadas em função dos alvos (balizas).
- As ações são encadeadas.
- Privilegia-se a comunicação motora em detrimento da verbal e da gestual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GARGANTA J. Competências no ensino e treino de jovens futebolistas. Lecturas Educación Física y Deportes (periódico on-line). 2002; 45. Disponível em: //www.efdeportes.com/efd45/ensino1.html> [2007 Mar 18].

Nenhum comentário: